INÍCIO AGRICULTURA Piscicultura

Presença de tilápias no Litoral Norte gaúcho preocupa pesquisadores e pescadores

Espécie, originária da África e do Oriente Médio, chegou ao Brasil nos anos 50 e é a mais cultivada por aqui

A tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus) é um peixe africano da família Cichlidae, conhecido pelos antigos egípcios já em 2000 a.C. É uma espécie de grande interesse na piscicultura atual, pois é o segundo grupo de peixes de água doce cultivado no mundo, ficando atrás apenas das carpas. O aparecimento de tilápias em lagoas do RS vem surpreendendo pescadores e pesquisadores, principalmente na região de Osório, no Litoral Norte do Estado. Apesar de ter caído no gosto de consumidores por conta da carne saborosa e leve, ela é classificada pelo Estado brasileiro como uma espécie exótica invasora, com potencial de se tornar praga.

A tilápia suporta extremos de temperatura e à salinidade e vive preferencialmente em corpos d’água com vegetação aquática, de águas lentas ou pantanosas, adaptando-se facilmente em detrimento de espécies nativas. Alguns especialistas alertam que o peixe consome todo tipo de alimento de origem animal ou vegetal e é responsável pela extinção de espécies nativas.
Piscicultura brasileira pode ser prejudicada, apontam agentes do setor
Piscicultura brasileira pode ser prejudicada, apontam agentes do setor

Os detratores da tilápia asseguram que em locais como a Lagoa do Marcelino, em Osório, no Litoral Norte, elas tornaram-se dominantes. Com a presença deste tipo de peixe, espécies tradicionais do local, como o caraá e traíra, teriam praticamente desaparecido. “Antigamente, tinha muito caraá. Agora não tem mais. Se tu colocas uma rede, pega mil tilápias e, por acaso, um caraazinho perdido”, contou ao portal G1 o pescador Luiz Alberto de Oliveira. Porém, a Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) garante que ainda não há nenhuma pesquisa que aponte a presença acima do normal de tilápias no Estado.
Em novembro, um seminário reuniu biólogos, professores e autoridades locais para debater a invasão das tilápias. Promovido pelo biólogo e gestor ambiental Aluízio Sores Dias, o Verdinho, o debate alertou para a capacidade de adaptação desta espécie, e o perigo que isso traz. “É um peixe que foi introduzido na década de 1950 no Brasil e se adapta muito bem às nossas águas. Ele cresce rápido, se multiplica facilmente e tem uma carne muito gostosa, então caiu no gosto popular”, afirma o biólogo.

Embora o Brasil seja o quarto maior produtor do mundo, a tilápia não é uma espécie nativa e foi introduzida principalmente em grandes reservatórios brasileiros das regiões Sudeste e Nordeste do País nos anos 50. Atualmente é o mais cultivado na piscicultura brasileira.
Em 2023, segundo o Ministério da Pesca e Aquicultura, a produção foi de cerca de 520 mil toneladas da tilápia, representando 65% do peixe de cultivo no País. Embora muita gente torça o nariz, a tilápia chegou com tudo. A espécie deve alcançar 80% do mercado de peixes de cultivo no Brasil até 2030, conforme previsão da Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR). A expectativa é que, nesse ritmo, o Brasil assuma no posto de terceiro maior produtor mundial de tilápias, dentro de dois ou três anos.

Recentemente, a Peixe BR liderou uma campanha contra a importação de tilápias do Vietnã. A entidade alegou que a cadeia da produção da tilápia é uma atividade nova e, portanto, em desenvolvimento, que envolve milhares de empresas e de produtores – sendo 98% de pequeno porte. E destacou ainda que o setor gera mais de 1 milhão de empregos e renda em todos os estados brasileiros. “A tilápia brasileira é uma das melhores do mundo, produzida com boas práticas e segurança”, pontuava a nota da entidade.


Incentivo à cadeia produtiva

A produtora rural, piscicultora e tilapicultora e presidente da tilápia RS, Maria Gabriela Lima Matei, ensina que a espécie é onívora, com tendência a herbívora e garante que a tilápia não é predadora, mas sim, presa de espécies nativas carnívoras, como a traíra.

“Às vezes, eu me pergunto se essas reportagens são feitas no achismo ou qual foi o real embasamento científico utilizado e o porquê de só escutarem um lado da moeda, porque não são voz ao setor produtivo se defender setor este que trabalha, produz alimento, gera renda e empregos?”, pergunta Maria Gabriela, que é produtora em Coxilha, no norte do Estado. “Parece um complô organizado para destruir toda uma cadeia produtiva estabelecida tanto no Estado quando no País”, afirma a produtora, que também coordena a Câmara Setorial da Aquicultura, da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi-RS).

A Tilápia RS foi criada em 2020 por um grupo de pesquisadores com o objetivo de formalizar e apoiar o desenvolvimento da cadeia produtiva da tilapicultura no Rio Grande do Sul por meio da união do setor produtivo. Um dos fundadores da entidade, o engenheiro agrônomo Sérgio Zimmermann, da Aqua Solutions Aquaponia, acredita estar havendo sensacionalismo ao tratar sobre o assunto, lembrando que a espécie está presente em todas as bacias hidrográficas do nosso Estado há meio século.
“Nesse ano, o calor excessivo tem beneficiado as mesmas porque os nativos carnívoros foram prejudicados pelas condições excepcionais. Mas tudo isso deve reverter porque a herbívora tilápia está na base da cadeia alimentar, não tem condições de invadir e permanecer nas nossas condições ambientais”, garante.

A presidente da Tilápia RS destaca que o estado é uma das regiões mais privilegiadas do mundo em termos de recursos hídricos e humanos para a tilapicultura e tem potencial para crescer, pois conta com 316 mil hectares de barragens e açudes cadastrados no Sistema de Outorga de Água do Estado do Rio Grande do Sul, mais 8.161 bilhões de metros cúbicos em lagos e reservatórios públicos.

Seriam11 mil produtores de tilápia presentes em 385 dos 497 municípios gaúchos, segundo Maria Gabriela. “Mas, para isso, precisamos unir a cadeia produtiva com o governo para que haja mais políticas públicas para o setor e mais profissionalismo e políticas públicas para trazer o produtor para a legalidade por meio da licença ambiental”, diz a presidente da Tilápia RS. “E é necessário colocar o Rio Grande do Sul no mapa do Brasil, que é o quarto maior produtor de pescado do mundo. O Estado ocupa o 12º lugar no País. E podemos estar entre os primeiros. Santa Catarina ocupa o terceiro”, argumenta.




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