Segundo boletim mensal do CEPEA - Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada Departamento de Economia, Administração e Sociologia ESALQ - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - USP - Universidade de São Paulo, o preço do leite captado em maio/22 e pago aos produtores em junho/22 registrou aumento de 4,6% frente ao mês anterior (a quinta alta consecutiva), chegando a R$ 2,6801/litro na “Média Brasil” líquida. Desde janeiro deste ano, o leite no campo acumula valorização real de 19,8% (valores deflacionados pelo IPCA de junho/22). As pesquisas ainda em andamento do Cepea apontam forte elevação dos preços em julho (referente à captação de junho): estima-se que a “Média Brasil” líquida possa subir mais de 15%, ultrapassando o patamar de R$ 3,00/litro.
Este expressivo aumento se explica pela menor oferta de leite no campo em junho. Com isso, as indústrias de laticínios seguiram em disputa pela compra do leite cru, matéria-prima para a produção de lácteos, para tentar evitar capacidade ociosa de suas plantas. A pesquisa do Cepea mostrou que o leite spot se valorizou 20,8% da primeira para a segunda quinzena de junho, chegando a R$ 4,16/litro. A média mensal, de R$ 3,80/litro, ficou 26,2% maior que a registrada em maio. Diante do aumento no custo da matéria-prima e com estoques baixos, os preços dos derivados lácteos dispararam em junho. Pelo segundo mês consecutivo, a baixa disponibilidade de leite e o aumento dos preços ao produtor e dos derivados continuaram favorecendo a competitividade dos produtos internacionais no mercado doméstico.
Assim, as importações de lácteos subiram 30,2% entre maio e junho, mas as exportações recuaram 31%. Em momentos como esse, de arrancada de preços, a pergunta que paira é: quando o efeito desse choque de oferta nos preços vai passar? Do ponto de vista da sazonalidade, a produção só deve ser incentivada com o retorno das chuvas da primavera, em setembro. Assim, até lá, a tendência é que os preços permaneçam acima da média anual. Contudo, desde maio, os custos de produção têm aumentado menos do que em meses anteriores.
E, apesar de os custos com as operações mecânicas seguirem em alta devido à valorização dos combustíveis, a queda nas cotações do milho tem favorecido a atividade. Esse cenário e o aumento nas cotações do leite ao produtor têm proporcionado melhora no poder de compra do pecuarista frente ao insumo: em junho, foi a primeira vez em 20 meses que o produtor precisou de menos de 32 litros de leite para adquirir uma saca de 60 kg de milho, com base nos preços do Cepea.
Essa melhora na relação de troca pode se reverter em retomada de investimento e favorecer uma recuperação mais rápida da produção. Porém, o fator que deve preponderar a partir de julho na formação dos preços é a demanda. A pesquisa do Cepea mostra que, a partir da segunda quinzena de julho, as negociações do leite spot e dos derivados foram prejudicadas pela diminuição do consumo, desestimulado pelos altos preços nas gôndolas. Esse contexto, contudo, pode se alterar a partir de agosto, com a implementação de programas de transferência de renda, que podem dar maior resiliência para o consumo, evitando quedas bruscas nos preços ao longo da cadeia produtiva.