A crise climática e o uso de agrotóxicos estão resultando na morte de milhões de abelhas todos os anos, gerando impactos ao meio ambiente e para a própria economia, já que as abelhas são parte fundamental na polinização para a agricultura. Somente em Santa Catarina, mais de 50 milhões de abelhas morreram no ano de 2019. Mas é de Santa Catarina que surge uma boa notícia para as abelhas, os ecossistemas e o sistema produtivo: o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) acaba de criar uma verificação de critérios socioambientais para a produção de mel.
"A associação acaba de passar pela primeira auditoria de campo e, com isso, poderão utilizar o selo de mel verificado com a marca Imaflora. A verificação leva em consideração diversos aspectos sociais e ambientais, como o raio médio de voo das abelhas, para se ter a rastreabilidade e comprovação de que o mel foi produzido naquela localidade, o controle de caixas de abelhas por hectare, para que se tenha uma produção condizente com a população de abelhas, boas práticas como a não utilização de fogo, o não uso de químicos, e práticas de uso de roupas e equipamentos de proteção", explica Ricardo Camargo, Coordenador de Certificação Florestal do Imaflora.
O padrão tem inspiração nos indicadores já existentes, bem como em sugestões da equipe técnica Internacional do FSC® - Forest Stewardship Council® e em outros indicadores específicos para produtos florestais não madeireiros adotados no passado para este tipo de verificação.
O selo está disponível para produtores com atuação em áreas de empresas que já contam com a certificação FSC, inclusive em florestas nativas. "O Imaflora tem em torno de 40% da área certificada de remanescentes florestais, principalmente de Mata Atlântica, então existe um potencial de que ela ganhe escala e seja aplicada em outros locais", afirma Ricardo.
A produção de mel envolve mais de 20 municípios da região do planalto serrano em Santa Catarina. Além do benefício social para as comunidades, ela destaca as vantagens para todo o ecossistema: "O impacto ambiental positivo promovido pela polinização que as abelhas fazem nas áreas nativas garante a qualidade ambiental dessas espécies. É o que garante que esses frutos nativos frutifiquem para a alimentação de outros animais, contribuindo para o equilíbrio ambiental de toda a cadeia", explica a bióloga.
José Ademir Vargas é o presidente da Associação dos Apicultores do Plantalto Serrano Catarinense. Com sede no município de Otacílio Costa, a associação foi criada em 2018, reunindo os apicultores que atuavam em áreas florestais de Reserva Legal da Klabin. Ele conta que grande parte da produção é exportada, "cerca de 95%, principalmente para a Alemanha". Antes da criação do novo selo do Imaflora, alguns dos produtores já possuíam o selo de produto orgânico, e a própria certificação FSC® da Klabin contribui para a atividade, explica Ademir: "Eles têm boas práticas de manejo, livre de agrotóxicos e outros poluentes, e a abelha percorre a área da Klabin". Ademir espera que o selo possa contribuir para agregar valor ao mel produzido pelos associados, que ajude a aumentar a conscientização dos consumidores para aspectos de sustentabilidade e proteção do meio ambiente na hora da compra, e que mais produtores possam adotar as boas práticas exigidas pela auditoria.