Quando Estefano Hupalo, 65 anos, dá a falar, Antônio Olinto para e ouve com atenção. Afinal, o agricultor é considerado o papa do kiwi na pequena cidade de 7.427 habitantes na Região Sul do Paraná. Desde 1991 na lida dos pomares, ele é um dos principais responsáveis por fazer a fruta de origem chinesa ter destaque no Estado. Conhece tudo do processo. Da adubação à poda dos pés, nada foge aos olhos desse veterano de voz mansa. “É tudo por minha conta”, diz, sem falsa modéstia.
Cuidado transformado em números robustos. Apesar de ser o segundo maior produtor do País, o Paraná é quem tem melhor aproveitamento. Respondeu, sozinho, por quase metade do Valor Bruto da Produção (VBP) do Brasil: 49,6% dos R$ 12,9 milhões gerados pela fruta. Número consideravelmente superior ao Rio Grande do Sul, líder de mercado, que alcançou 33,6% – Santa Catarina (16,2%) e São Paulo (0,6%) aparecem na sequência. Os números são do Censo Agropecuário de 2017 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), últimos dados nacionais disponíveis sobre a colheita.
“A precificação do produto paranaense apresentou cota maior, indicando uma melhor qualificação do kiwi local”, avalia o engenheiro agrônomo da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), Paulo Andrade. No Paraná, explica o técnico, o Departamento de Economia Rural (Deral) acompanha a cultura desde meados dos anos 2000. Nos últimos dez anos, segundo o órgão, a área plantada de kiwi no Estado girou em torno dos 200 hectares, com colheitas estimadas em 3 mil toneladas.
A produção local, concentrada de março a maio, está centralizada nas regiões Sul e Centro-Sul, com Antônio Olinto puxando a fila (20,7%), seguido por Araucária (18,1%), Mallet (17,3%), Porto Amazonas (11%) e Lapa (8,3%). Conjunto de cidades que abrange 75,4% do total. Outros 25 municípios respondem pelo restante. Já em relação à comercialização, no ano passado as Ceasas do Paraná venderam 889 toneladas de kiwi a um preço médio de R$ 11/kg.
DO PARANÁ PARA O BRASIL – “O clima aqui em Antônio Olinto é ameno, muito bom para o desenvolvimento da fruta. O kiwi daqui é doce, todo mundo gosta. Tanto que a fruta vai para vários cantos do Brasil, como São Paulo, Rio, Bahia, Brasília”, conta Ezequias Gomes do Nascimento, gerente administrativo da Aviexp.
A empresa é quem puxa a produção de Kiwi em Antônio Olinto. São 22 hectares de área plantada e uma colheita estimada em 700 toneladas por ano. Fruta que viaja uns bons quilômetros para alimentar o Brasil. A primeira parada é na expedição, em Contenda, na Região Metropolitana de Curitiba. Lá o kiwi é higienizado, pesado e embalado. Sai em pacotes de 600 gramas, em caixas com 20 embalagens, ou a granel, com oito quilos. Última parada antes de ganhar os mercados do Sudeste e Nordeste do País. “O kiwi ocupa a maior parte da nossa área, mas temos também maçã e ameixa. São atualmente 48 hectares de fruta plantada, com foco na expansão. Pretendemos em até cinco anos mais que dobrar, chegando a 100 hectares”, explica o gerente.
EMPREGO – Potencial visto também na necessidade de mão de obra. A empresa conta com 22 funcionários fixos. Número que passa de 40 em períodos de colheita. O jovem Douglas Valente Padilha, de 18 anos, por exemplo, é muito grato ao kiwi. É por causa da fruta que ele conseguiu o primeiro emprego e a possibilidade de sonhar com um futuro melhor. “Estou começando agora, então tudo vale a pena. Posso ajudar em casa e guardar uns trocos, já que não sei o que vem pela frente”, diz. Processo já vivido por Benedito Mariano dos Santos, de 53 anos, o mais experiente da colheita. São 15 anos de kiwi, todos em Antônio Olinto. “Sou casado e tenho três filhos. Sobrevivemos daqui, do kiwi”.