Ademar De Geroni Jr*
Entre todos os desafios e entraves que permeiam a produção agrícola mundial, a busca por práticas cada vez mais sustentáveis tem sido um dos tópicos mais debatidos entre os elos da cadeia produtiva nos últimos anos. Já é consenso entre agricultores, iniciativa privada, governo e sociedade que a atividade só conseguirá continuar sendo um dos maiores trabalhos da Terra se avançarmos inovando no desenvolvimento de uma agricultura capaz de utilizar os recursos naturais racionalmente e, ao mesmo tempo, preservar o meio ambiente.
Nessa perspectiva, empresas que fornecem insumos para proteção de cultivos estão cada vez mais atentas na corrida pela sustentabilidade. Muitas delas passaram a investir no aprimoramento e desenvolvimento de soluções mais sustentáveis, dentre elas as biológicas, que atuam principalmente no controle de pragas e doenças com uso de organismos ou substâncias naturais. E a sinergia promovida entre os produtos químicos e biológicos tem sido um recurso valioso: além dos ganhos em sustentabilidade com os bioinsumos, por contribuírem na redução de resíduos e no combate a resistência, a solução integrada desses produtos está alavancando, ainda mais e com maior equilíbrio, a produtividade no campo.
Se olharmos com atenção os números deste mercado no Brasil, o panorama se mostra ainda mais otimista: hoje, existem mais de 500 bioinsumos registrados no Ministério da Agricultura, cinco vezes mais que o disponível há dez anos. Não é à toa que, entre os agricultores do país, chegamos a quase 60% na adoção de produtos biológicos. Na prática, já temos resultados desse investimento: um dos grandes saltos históricos de produtividade na cultura da soja há alguns anos foi possível por conta da descoberta do agente biológico de fixação de nitrogênio. No processo, chamado de inoculação, bactérias benéficas são aplicadas às sementes num processo de simbiose para contribuir na fixação biológica de nitrogênio e no desenvolvimento das raízes, dispensando o uso de fertilizantes nitrogenados.
Este interesse por soluções mais sustentáveis advém de uma série de fatores, mas acreditamos que um dos principais motivos seja a abertura dos produtores brasileiros à adoção de inovações. Outro caso de sucesso é a adesão ao plantio direto, sistema que revolucionou a agricultura, que evita a erosão, diminui o custo na preparação do solo e melhora o percentual de matéria orgânica. Na América Latina, o Brasil lidera a porcentagem de agricultores que adotaram o sistema, que está acima de 80% da área total cultivada, e mais de 95% no sistema soja, milho, algodão e cereais de inverno. Ou seja, o produtor brasileiro já entendeu que para manter o seu legado forte, é preciso fazer uso de soluções integradas e de práticas responsáveis.
Nesta corrida pela sustentabilidade na agricultura, mais um exemplo interessante é o uso de adjuvantes vegetais, à base de óleo de soja, que ajudam a dar mais eficiência à aplicação de defensivos, fazendo com que o produto atinja o alvo com maior assertividade sem promover desperdício. Neste caso, trabalhamos o conceito de economia circular: um produto que é feito da soja, que volta para a soja.
Ainda podemos citar o mercado de crédito de carbono e as certificações ESG como impulsionadores que compõem o contexto atual. Programas de baixo carbono, por exemplo, estão apoiando produtores a produzir mais com redução da sua pegada de emissão de gases de efeito estufa e a agregar valor à produção. Além disso, companhias comprometidas com a sustentabilidade do agro têm assumido compromissos públicos com metas claras de melhorias, como a redução da emissão de CO2 por tonelada de grão produzido, o aumento do uso de tecnologias digitais no campo com maior eficiência no uso de recursos, produtos com perfil mais sustentável e de menor impacto ambiental e capacitação e treinamento de uso correto dos produtos no campo. São metas que nos dão a direção que precisamos seguir rumo a uma agricultura mais sustentável.
O que o agronegócio brasileiro faz, em termos de sustentabilidade, é suficiente para mantermos nosso posto de relevância frente a outros grandes players mundiais durante os próximos anos? Essa é uma questão interessante a ser analisada e de grande valor. Mas acredito que apenas perseguindo um ideal equilibrado e responsável, preservando o meio ambiente, investindo em inovação, pesquisa e desenvolvimento de novas soluções e conscientizando as novas e antigas gerações da importância do uso correto e seguro dos recursos é que vamos ter a certeza de que a resposta para esta pergunta é positiva.
*Ademar De Geroni Jr. É vice-presidente de Marketing da Divisão de Soluções para Agricultura da BASF para a América Latina