Pelo menos 32% das receitas do VBP (Valor Bruto de Produção) da agropecuária do país virão da soja neste ano. Consideradas apenas as 17 principais lavouras, sem a pecuária, a participação da oleaginosa sobe para 46%.
Após ter perdido participação em 2022, devido à quebra de 20 milhões de toneladas provocada por problemas climáticos, a oleaginosa volta a ter boa evolução neste ano.
As máquinas já estão em campo para a colheita de 2022/23, e a estimativa é de uma produção recorde de 152,7 milhões de toneladas.
Como não há um cenário favorável para a produção na Argentina e os estoques ainda estão baixos nos EUA, os produtores brasileiros poderão obter R$ 406 bilhões de receitas dentro da porteira com a oleaginosa.
Essas estimativas são da Coordenação-Geral de Políticas Públicas, do Ministério da Agricultura, e levam em consideração o volume a ser produzido e o valor da saca recebido pelos produtores.
O Brasil é o líder mundial em produção de soja, seguido dos Estados Unidos e da Argentina. Os três países produzem 82% do volume mundial, e qualquer problema climático em um deles ajuda a segurar os preços internacionais.
Os efeitos climáticos na Argentina, atrasando o plantio, a redução das restrições contra a Covid na China e uma participação menor da Ucrânia na oferta de óleos vegetais, principalmente na de girassol, mantêm os preços da soja aquecidos em Chicago.
O milho, que segue os passos da soja, ocupando a área deixada pela oleaginosa após sua colheita, também dará receitas recordes aos produtores, podendo atingir R$ 152 bilhões neste ano, conforme o Ministério da Agricultura. A produção do cereal será recorde no país, somando 125 milhões de toneladas, segundo a Conab.
As exportações e a demanda interna aquecidas reduzem os estoques finais, que devem ficar abaixo dos 5 milhões de toneladas nesta safra, os menores em 11 anos. Isso reduz o espaço para quedas de preço.
A terceira e a quarta maiores receitas do campo virão da bovinocultura e da avicultura. Após aceleração dos preços internacionais e aumento das exportações nos anos recentes, o que refletiu nos valores internos, a tonelada de carne bovina fresca começa a recuar no mercado externo.
Neste mês, a média da tonelada exportada é de US$ 4.888, conforme dados divulgados nesta segunda-feira (16) pela Secex (Secretaria de Comércio Exterior), abaixo dos US$ 5.233 de janeiro de 2022.
Isso reflete nos preços internos, que estão em queda, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). Com isso, as receitas dos pecuaristas dentro da porteira estão prevista para US$ 145 bilhões, 4,4% a menos do que em 2022. É o menor valor em quatro anos. Esses dados fazem parte do VBP de 2022 e das estimativas para 2023.
Neste ano, o valor total deverá atingir R$ 1,26 trilhão, 6,3% a mais que em 2022, segundo o Ministério da Agricultura. O setor de lavouras sobe para R$ 882 bilhões, com alta de 8,3%; e a pecuária vai a R$ 381 bilhões (+1,9%). Na média, a evolução das receitas com a agropecuária será de 6,3%, se confirmadas as previsões.
Esse valor, no entanto, vai sendo ajustado conforme as variações da produção e dos preços ao longo do ano. Em 2022, O VBP teve retração de 0,1%, em relação ao de 2021.
Soja e bovinocultura, dois dos importantes participantes da agropecuária, caminham em sentido contrário em 2023. A soja, após uma queda na participação do VBP para 28,5% em 2022, deverá voltar a 32,2%, devido à supersafra.
Já o setor de bovinos, que participava com 12,7% do VBP da agropecuária em 2022, terá participação de 11,5% neste ano, conforme as estimativas do Ministério da Agricultura.
Arroz e feijão, com menor área de plantio, e consequente menor oferta de produto, têm preços maiores. A participação das receitas dos agricultores desses dois produtos básicos, no entanto, se limita a 3% da agropecuária.
Secas contínuas no Sul têm feito a região perder participação nas receitas obtidas com as lavouras. Em 2022, foi de 24,4%, abaixo dos 25,7% do Sudeste e dos 33,6% do Centro-Oeste.
O Paraná, segundo no ranking nacional até 2021, perdeu o posto para São Paulo no ano passado. O Rio Grande do Sul caiu da 4ª posição, em 2021, para a 6ª, em 2022 (Folha de S.Paulo, 17/1/23)