Há 25 anos nas mãos da família Garcia, a Fazenda Santa Izabel, em Presidente Castelo Branco, no Noroeste do Paraná, passou por uma transformação desde que adotou o sistema de Integração Lavoura Pecuária (ILP). Hoje, a propriedade de 242 hectares registra resultados quase inimagináveis na produção de soja e gado de corte. Tudo isso diante das dificuldades na região do Arenito Caiuá, onde o solo é arenoso e com baixo teor de matéria orgânica. As altas temperaturas no verão e a irregularidade no regime de chuvas também acentuam o déficit hídrico no solo.
“Quando nós viemos para cá, mantivemos a monocultura com soja e milho e quase quebramos. Foi preciso arrendar uma parte da área para cana-de-açúcar, senão íamos perder a propriedade. Se você não diversificar o sistema e introduzir outras culturas em uma região como a do Arenito. O negócio não sobrevive”, afirma o produtor André Garcia, que administra a propriedade ao lado do pai, João Garcia.
A implantação de ILP na Fazenda Santa Izabel serviu de virada que a família Garcia precisava para salvar o negócio. Hoje, já são 15 anos com o sistema, que, ano após ano, mostra resultados cada vez mais satisfatórios. Nesta trajetória, a propriedade conta com assistência técnica da cooperativa Cocamar, a qual pai e filho são associado. Além da Unicampo, cooperativa de trabalho de profissionais de agronomia de Maringá, em que André ocupa o cargo de presidente.
Na safra de verão, 194 hectares são cultivados com soja. Em 19 hectares, a pastagem é fixa, onde são mantidas, em média, 200 cabeças de gado Nelore e Limousin em engorda intensiva. Após a colheita da oleaginosa, entra a braquiária na área de 194 hectares, ora solteira ora em consórcio com o milho (parte do cereal também será comercializado).
Normalmente, o plantio da braquiária (solteira ou consorciada) é realizado entre final de fevereiro e início de março, levando de 45 a 60 dias para chegar no ponto de pastejo. Dessa forma, em meados de maio, o gado é introduzido nessa área. O tempo em que os animais permanecem na fazenda varia entre 90 e 120 dias.
Com esse tipo de manejo, os animais têm alimentação abundante durante o inverno e há aumento no ganho de massa corporal. O que vai na contramão da pecuária extensiva, ainda predominante na região Noroeste. Com o aumento da oferta do boi gordo a partir de maio e uma área de pastagem 10 vezes maior disponível, o rebanho dos Garcia pode chegar até 500 cabeças nesse período.
“Esse número varia de acordo com o ano, de 350 a 500 cabeças, mas a média é 400. Com o fim do inverno, quando retornamos o gado para o pasto fixo, não tem espaço para manter todos os animais. Parte desse gado, se já estiver apto, vai para o frigorífico. Se não, finalizamos no confinamento”. explica Garcia. “Se precisar, parte tenho que vender, para manter as 200 cabeças girando nesse sistema. Por isso é preciso planejamento”, acrescenta.
A estratégia para a terminação, segundo o produtor, é a dieta de alto grão, que utiliza milho no confinamento ou semiconfinamento. Como possui alto teor de energia, esse tipo de alimentação proporciona ganho de peso acelerado, melhor acabamento e rendimento de carcaça. Na Fazenda Santa Izabel, a média de ganho de peso diário na terminação chega a 1,5 quilo por animal. “A maior parte de ganho de peso o animal faz no pasto. No alto grão, geralmente se faz o acabamento de gordura e marmoreio”, complementa.
Apesar das vantagens observadas com o alto grão, um dos empecilhos é o preço do milho. Por isso, é importante que o produtor que adere ao sistema de integração saiba se adaptar conforme as necessidades. “Tem que trabalhar de acordo com o mercado. No último ano, não fiz alto grão por causa do preço do milho, que estava muito elevado. Acabei finalizando com ração e silagem”, observa.
O momento de retirada do gado da área de pastagem é crucial para que o sistema continue funcionando plenamente. Por isso, em agosto, acontece esse manejo, para que o tamanho da braquiária esteja adequado para dessecação e para não fugir à janela de plantio da soja, que começa em outubro na região.
Durante o inverno, a área fixa de pasto fica em pousio, quando acontecem correções de fertilidade e cobertura do solo, para que a pastagem se reestabeleça até o início do verão, quando o gado retorna.
Antes de implantar a ILP na propriedade, eram colhidos de 30 a 35 sacas de soja por hectare. Com o sistema, a média saltou para 60 sacas por hectare. A pecuária também vem mostrando excelentes resultados, maximizando a produtividade em uma área reduzida, visto que o potencial de produção de carne por hectare com ILP é mais eficiente. São praticamente 10 cabeças por hectare no verão, dez vezes mais que a média da região.
“Quando se pensa em sistema, significa que você ganha na soja em um ano, em outro no milho, e assim por diante. Se eu mantiver 500 cabeças de gado o ano inteiro, a estrutura não suporta. Tem produtor que se preocupa que, por estar colocando braquiária, perde um pouco da produtividade do milho. Mas esse não deve ser o foco”, salienta Garcia.
Os benefícios ambientais também colaboram para que a produtividade cresça a cada ano. No caso da soja, há aumento de resistência às intempéries climáticas, principalmente os veranicos, comuns na região Noroeste. Isso porque, com a palhada decorrente do plantio de braquiária no inverno, o solo ganha mais matéria orgânica, o que aumenta sua capacidade de retenção de água e nutrientes, e fica mais estruturado, com menos tendência à erosão. Há cerca de cinco anos, o produtor começou a introduzir o plantio de eucaliptos no entorno e nas divisas da fazenda.
Até o momento, o componente florestal do sistema ainda está em fase de testes, mas já contribui para o bem-estar animal, oferecendo mais conforto térmico aos bovinos por meio da sombra projetada pelas árvores.