A produção e os desafios da cultura do milho foram destaques durante o Mais Milho, que marcou a Abertura Nacional da Colheita de Milho de Segunda Safra. O evento foi realizado nesta quarta-feira (12), na Fazenda Jaqueline, em Cláudia, e contou a presença de especialistas em mercado e representantes do setor, que debateram os cenários dessa cultura.
Dentre os assuntos em destaque, estavam a reforma tributária, que pode afetar diretamente o setor, custos de produção, cotações das commodities, dentre outros. O Mais Milho é realizado pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), pela Associação Brasileira de Produtores de Milho (Abramilho) e Canal Rural.
Para o presidente da Aprosoja-MT, Fernando Cadore, o evento marcou a ultrapassagem do milho em relação à soja. Nessa safra, Mato Grosso deverá colher cerca de 50 milhões de toneladas do cereal, contra 45,32 milhões de toneladas da oleaginosa, de acordo com informações do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Por outro lado, as cotações das duas commodities, em especial do milho, estão baixas, o que preocupa o setor.
É um ano histórico em que a produção de milho passa à produção de soja e, ao mesmo tempo, um ano desafiador, onde custos aumentaram e os preços baixaram. Esse evento traz a oportunidade de discutir como ficará a viabilidade da cultura, como Mato Grosso se manterá nos níveis de produção, se haverá expansão ou recuo
Fernando Cadore, presidente da Aprosoja-MT
Já o vice-presidente da Abramilho, que também é realizadora do evento, Zilto Donadello, lembrou que apesar de os produtores de MT terem superado a produção de soja, ainda há muitas áreas a serem utilizadas para o cereal. Isso porque Mato Grosso planta duas safras, sendo a primeira de soja e a segunda safra de milho, o que reforça que o milho deve se tornar ainda mais importante.
“Esse evento demonstra a importância de Mato Grosso na segunda safra, mostrando o potencial que nós temos sem derrubar florestas, usando a área de soja para a safra de milho. MT plantou 12 milhões de hectares de soja e somente 60% dessa área é utilizada para produzir milho”, reforça Donadello, acrescentando que o milho é o cereal mais consumido no mundo.
Isso causa um problema logístico extremamente grave. O Brasil pode atravessar uma crise em função de não ter onde colocar o produto, um produto de extrema necessidade, de primeira importância para o brasileiro e que vem sofrendo agora esses problemas de custos, que fazem com que a produção do grão fique inviável nos nossos campos
André Dobashi, presidente da Aprosoja Mato Grosso do Sul
O evento também contou com a presença do presidente da Aprosoja Mato Grosso do Sul, André Dobashi, que pontou as similaridades entre a produção dos dois estados. De acordo com Dobashi, as similaridades são a alta produção e produtividade e, por outro lado, os problemas são compartilhados, principalmente em relação ao armazenamento e cotações baixas.
De acordo com informações do último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção de grãos de Mato Grosso é de mais de 97 milhões de toneladas. Em contrapartida, a capacidade de armazenamento do estado é de apenas 46 milhões de toneladas. Ou seja, o estado poderia armazenar apenas 47% da sua safra de grãos.
Esse percentual é seriamente inferior ao recomendado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a FAO, órgão vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU), que recomenda que a capacidade de armazenamento corresponda a 120% do total da produção. Sendo assim, MT deveria ter capacidade de armazenar 116 milhões de toneladas.
E o que torna a situação ainda mais grave para os produtores é que de 46 milhões de toneladas de capacidade de armazenamento, apenas 28% dessa capacidade está nas fazendas.
Já o estado vizinho produz 26,9 milhões de toneladas de grãos e a capacidade de armazenagem é de 12,2 milhões de toneladas, ou seja, os produtores de Mato Grosso do Sul podem armazenar somente 45% da sua safra de grãos. Já o percentual de capacidade de armazenamento das fazendas em MS é de apenas 13%, segundo a Conab.