As dificuldades enfrentadas pelos agricultores paranaenses com as condições climáticas adversas, as lições da pandemia e a perspectiva de uma nova safra com excelente produção e bons preços foram temas abordados pelo secretário estadual da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara, no Agro Experience, evento online que reúne centenas de pessoas para discutir a agropecuária brasileira. Ortigara foi um dos entrevistados no encontro nesta terça-feira (28). O evento segue até quinta (30).
“É uma sensação de perda pura”, afirmou o secretário a uma pergunta da entrevistadora Lilian Munhoz sobre as consequências da estiagem para o Estado. Segundo ele, a situação já se configurava grave para os produtores paranaenses em setembro do ano passado. “Estávamos com uma estiagem bastante intensa e prolongada que fez atrasar tudo”, disse.
Em decorrência sobretudo desse fator, o Estado perdeu quase 300 mil toneladas de feijão e quase 9 milhões de toneladas de milho de segunda safra, além de apresentar quebras importantes em cana-de-açúcar e em laranja, que sofreu com a estiagem pelo terceiro ano seguido.
A quebra, sobretudo do milho, encareceu a produção de suínos, frango, peixes, leite e outros produtos. Em junho e julho, duas geadas atingiram o Estado e agravaram a situação em algumas culturas já deprimidas, além de provocar perdas na floricultura e olericultura.
“Temos um conjunto relevante de perdas e boa parte não estava coberta por Proagro, por seguro, porque grande parte do milho, que é a principal lavoura afetada, foi semeada fora do zoneamento agrícola em função do retardo da semeadura e colheita da soja”, explicou.
DEMANDA – O Departamento de Economia Rural (Deral) estima que os prejuízos foram de cerca de R$ 15 bilhões. “Esse quadro de encarecimento geral, fertilizantes, pesticidas, maquinário em geral, combustíveis, tudo isso trouxe custo novo para a nossa agricultura”, afirmou. “É certo que o ciclo de valorização dos preços das commodities ainda favorece a relação de troca para o agricultor, mas nós temos alguns setores operando meio que no vermelho, no limite, alguns que não conseguem travar em dólar, por exemplo, o preço final de exportação”.
Mas, segundo ele, o mundo continua com demanda forte por alimento. “Têm necessidades por grande parte do mundo, continua o processo de restabelecimento de produção em alguns locais do planeta que foram afetados por problemas sanitários, então há uma necessidade de aquisição”, reforçou. “Houve uma valorização do dólar, o que pode trazer preços bons”.
De acordo com Ortigara, ainda que a perspectiva continue sendo de menos chuva no Centro-Sul e mais risco para os agricultores paranaenses, a torcida é por uma produção com perspectiva normal. Para isso, salientou a necessidade de cuidar bem da natureza.
“Não se faz agricultura sem água, se deve respeitar a natureza, se deve cuidar do solo para não ter compactação, erosão, se deve fazer rotação de cultura para procurar guardar água no solo para enfrentar períodos mais difíceis como esse”, disse.
PROJETOS – O secretário também foi questionado sobre programas que visam fortalecer a agropecuária estadual e apresentou alguns dos projetos beneficiados pelo Banco do Agricultor Paranaense, que tem como premissa apoiar os produtores para baratear os financiamentos em melhorias das propriedades e desenvolvimento de culturas. Ele destacou o projeto de energia renovável, pelo qual o Estado assume para si o pagamento da taxa de juro integral. A mesma estratégia foi adotada para estimular a implantação de projetos de irrigação nas propriedades.
Ortigara apresentou, ainda, o projeto Coopera Paraná, que tem o objetivo de ajudar as pequenas cooperativas e associações da agricultura familiar. “Nós estamos apoiando com orientação técnica, orientação gerencial e também com dinheiro a fundo perdido”, disse. “E nós somos compradores de comida para atender a nossa grande rede socioassistencial. Hoje são mais de mil entidades beneficiadas diariamente com alimentos provindos da agricultura familiar”.
NOVO CICLO – Ortigara lamentou a pandemia, que tirou vidas e paralisou muitas atividades, mas apontou alguns aprendizados e métodos que, segundo ele, devem se tornar permanentes. “Aprendemos bastante durante a pandemia, aprendemos a nos reinventar também com métodos modernos, novas tecnologias de comunicação, novas tecnologias de trabalho e vamos nos apropriar disso”, acentuou.
Para ele, é preciso ter um olhar de otimismo, sobretudo agora que parte importante da população já está imunizada. “Vamos continuar adotando todos os métodos de proteção individual, higienização, máscara, álcool gel e distanciamento social, e procurando neste início de primavera refazer a vida, em um novo ciclo”, arrematou.