Nunca o clima foi tão determinante no mercado de grãos como nos últimos anos. As mudanças climáticas vêm causando grandes prejuízos à produção mundial de alimentos. Como os maiores produtores de milho mundiais vivem crises climáticas ou de conflito, que é o caso da Rússia e Ucrânia, o milho brasileiro ganha um protagonismo inesperado neste cenário.
Mas, embora a safra de milho brasileira esteja caminhando para uma boa produção, talvez não seja suficiente para amenizar problema de demanda que está por vir. E isso certamente haverá elevação no preço do cereal no mercado mundial.
Porém, os problemas de logística e a deficiência na capacidade de armazenamento no Brasil são fatores que podem comprometer a lucratividade do produtor brasileiro. A maioria dos armazéns ainda está sendo utilizada para guardar soja, que teve seu volume de vendas comprometido neste ano pelos baixos preços no mercado.
A saída para o produtor é exportar e aceitar os preços atuais do milho ou armazenar em silos bags ou até mesmo a céu aberto, como em alguns casos no Estado do Mato Grosso. "Mais uma vez, a falta de uma política econômica voltada para o setor compromete a lucratividade do produtor brasileiro", afirma o analista de mercado Camilo Motter, da Corretora Granoeste.
A Europa vive uma onda de calor jamais vista. O relatório State of the Climate in Europe 2022 mostra como a Europa tem aquecido duas vezes mais que a média global desde a década de 1980, com impactos de longo alcance no tecido socioeconômico e nos ecossistemas da região.
A mudança climática está levando a Europa a ter safras menos produtivas, um aumento no custo de produção, e a própria inviabilidade financeira da produção agrícola. O fator clima está levando cada vez mais à a diminuição das áreas produtivas. A razão pela qual a Europa está aquecendo mais rápido do que outros continentes tem a ver com o fato de que grande parte do continente está no subártico e no Ártico – a região de aquecimento mais rápido da Terra.
Os EUA sofrem com a seca no cinturão de produção. No mês de junho, em muitos Estados americanos as chuvas que estão ocorrendo não estão sendo suficientes, e muitas chegaram com vendavais e tempestades de granizo, destruindo parte da área foliar e derrubando lavouras já em fase de florescimento, também a fase mais sensível à seca.
De acordo com o USDA, o mês de junho foi um dos anos historicamente mais secos e quentes do país e o mês de julho continua com recordes de altas temperaturas no meio oeste americano, a mais importante região produtora de milho do país.
A Argentina que, de acordo com o USDA, tinha previsão de ampliar sua produção, continua sofrendo com fortes secas. A colheita está muito atrasada e, segundo a Bolsa de Comércio de Rosário, ainda haverá uma diminuição de 40% da produção de milho em comparação com as expectativas iniciais, algo em torno de somente 32 milhões de toneladas. A mesma situação de catástrofe na produção ocorreu com a soja.
As estimativas de produção inicial caíram 59%, tendo a Argentina colhido tão somente 20 milhões de toneladas da oleaginosa, considerada pela Safras e Mercado como a menor do século. Já a União Europeia, que na safra 2021/22 bateu recorde de produção de milho, com mais de 71 milhões de toneladas colhidas, teve uma redução de mais de 25% na produção do cereal na safra 22/23.
Ou seja, com menos de 53 milhões de toneladas produzidas, haverá falta do produto no mercado interno agravado pela falta do suprimento pela Ucrânia.
A China que tem sua produção concentrada nas regiões norte e nordeste do país, região que colhe 90% da produção, especialmente nas províncias de Heilong Jian, Jilin e Nei Mongol, com quase 40% da produção total chinesa, tem sido castigada com problemas de seca nesta safra com déficits de umidade entre 20 e 40%. Com a necessidade de superar seus já baixos estoques internos, a China já está enfrentando prejuízos em suas lavouras de milho.
Após três anos de resfriamento do padrão climático La Niña, a OMM anunciou que o El Niño está em andamento e tem 90% de probabilidade de continuar até o final do ano com força moderada ou superior.
Segundo o meteorologista Francisco de Assis, no Iowa, principal Estado americano produtor de grãos, a previsão é de apenas 3mm a 15mm de chuvas até o dia 31 de julho, considerado muito ruim para a época. Já o Missouri, terá apenas de 7mm a 20mm no Norte, o que também é ruim. No Oeste de Illinois deve chover de 10mm a 20mm e no Sul deve chover de 20mm a 100mm, que são níveis melhores. Os únicos Estados americanos que devem ter chuvas melhores serão Indiana (de 10mm a 30mm no Norte e 25mm a 70mm no centro) e Ohio (25mm a 70mm).
Os meses de junho e julho são os mais críticos para a cultura do milho nos Estados Unidos. As lavouras estão em fase de florescimento e esta situação crítica de temperaturas extremas e grandes períodos de estiagem, já tem estimativas, mesmo as mais conservadoras, indicando que o país deverá ter perdas superiores a 15% na colheita de milho, o que representará uma redução de mais de 50 milhões de toneladas na produção americana.
Com uma demanda interna crescente, para mais de 310 milhões de toneladas (pelo aumento da adição de etanol na gasolina), e estoques internos baixos, provavelmente não haverá produto para atender toda demanda.