O fenômeno La Niña geralmente é associado ao Clima mais seco e irregular no Sul do que no restante do país e, muitas vezes, torna mais complexas as estimativas de produção. Se caracteriza pelo resfriamento anormal das águas do oceano Pacífico, com origem na região do Pacífico Equatorial, na zona intertropical do planeta, e provoca alterações sazonais na circulação geral da atmosfera, podendo durar de nove a 12 meses.
Devido ao fenômeno, no ano passado, duas situações podiam ser vistas no Brasil: boas condições no Cerrado e áreas muito prejudicadas no Sul, levando, na época, a um corte de 10,3 milhões de toneladas nas estimativas preliminares. Neste início de 2023, porém, a situação é bem melhor do que a verificada no mesmo período do ano passado. Embora o clima na região esteja um pouco mais seco que o esperado, especialmente no Rio Grande do Sul, o estado mais prejudicado na safra anterior – os danos ainda não são significativos.
Segundo levantamentos preliminares, o desempenho das primeiras lavouras no RS é inferior ao que os produtores esperavam, principalmente na região oeste, devido à chuva irregular no início da temporada – mas isso poderá ser compensado pela soja de ciclo médio e tardio, favorecida pelo clima mais úmido desde meados de dezembro. A produtividade no estado é estimada em 60 sacas por hectare – abaixo do recorde de 61,2 sacas por hectare da safra passada.
A produção brasileira de soja é estimada em 153,4 milhões de toneladas, volume 19% acima da safra anterior, numa área plantada 3,9% maior, de 43,2 milhões de hectares. Mas as lavouras gaúchas, por exemplo, ainda vão precisar de chuva nas próximas semanas para preservar a produtividade e garantir essa previsão de safra.
Em mais um ano de La Niña, o Rio Grande do Sul é o estado que apresenta as maiores indefinições em relação ao potencial das lavouras. É imprescindível que as chuvas regularizem ao longo dos meses de janeiro e fevereiro para que se consolide a produtividade, estimada em 51,5 sacas por hectare, contra 27 sacas por hectare na safra passada. Para Santa Catarina, as estimativas apontam para 59,6 sacas por hectares (46,6 sacas por hectare em 2021/22).
O Paraná deve também apresentar uma grande recuperação no seu potencial produtivo, hoje estimado em 61,5 sacos por hectare. A região oeste é a única do estado que, por ora, sente os efeitos da estiagem.
No Mato Grosso do Sul, as lavouras encontram-se em boas condições, em especial no Norte do estado. A produtividade é estimada em 59,5 sacas por hectare, um salto diante da safra passada, com 44,9 sacas por hectare, quando o Sul do estado foi afetado pela estiagem.
Goiás, que na safra passada atingiu seu recorde de produtividade com 67,2 sacas por hectare, apresenta potencial reduzido em função da estiagem que afeta as lavouras precoces, porém as de ciclo médio e tardio estão em ótimas condições de desenvolvimento e podem suprir o potencial perdido das precoces. A produtividade no estado em 62,9 sacas por hectare.
Em Minas Gerais, as lavouras apresentam bom desenvolvimento e a produtividade é projetada em 63,3 sacas por hectare (63,6 na safra anterior).
No Norte e Nordeste do Brasil, as lavouras se desenvolvem sob boas condições climáticas, o que vem garantindo o seu potencial produtivo. A safra de soja da Bahia é estimada em 65,5 sacas por hectare e, no MAPITO (Maranhão /Piauí /Tocantins), a previsão é de 56,4 sacas por hectares (58,1 em 2021/22).
A produção de milho verão (1ª safra) certamente é a mais afetada pela La Nina. A estiagem ao longo do mês de setembro e outubro já retirou quase 2 milhões de toneladas dessa safra, estimada agora em 29,6 milhões de toneladas, volume 20,5% maior que 2021/22, em área plantada de 5,37 milhões de hectares (5,42 milhões em 2021/22).
O Rio Grande do Sul novamente é o estado mais afetado, já que o clima irregular prejudicou a formação e o enchimento de grãos. Nos demais estados as lavouras apresentam bom desenvolvimento. A perspectiva atual é que, mesmo com o atraso no plantio de soja de algumas regiões, há calendário para o avanço da área de milho para 17,5 milhões de hectares.
A produção prevista é de 101,3 milhões de toneladas, um crescimento de 9,7% sobre a safra anterior. Esso cenário elevaria a produção total de milho do país para 130,9 milhões de toneladas.