Apesar de ser mais comum em áreas rurais e de matas fechadas, a doença vem causando uma preocupação generalizada, especialmente por sua alta letalidade. Com sinais clínicos inespecíficos e gravidade variável, a febre maculosa ganhou espaço nas manchetes de muitos jornais do país depois do surto identificado em uma fazenda de Campinas, no interior de São Paulo.
Transmitida por carrapatos do gênero Amblyomma que estejam contaminados pela bactéria Rickettsia rickettsii, a febre maculosa exige atenção e cuidados especiais, mas não é motivo para pânico.
Vanessa Yuri, coordenadora do curso de Medicina Veterinária da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Câmpus Toledo, explica que animais domésticos e silvestres estão sujeitos a infestações por carrapatos e, por isso, o alerta também é válido para quem vive em áreas urbanas.
Segundo a especialista, animais como cães, cavalos, bovinos e capivaras podem carregar o carrapato contaminado. Em caso de contato com esses bichos ou após passar um período em ambiente de mata fechada, é importante realizar uma inspeção minuciosa na pele para verificar se não há nenhum carrapato aderido.
Ao detectar a presença do ectoparasita, o ideal é retirá-lo segurando com uma pinça ou papel, com um leve movimento de torção que faz com que o aparelho bucal do carrapato se abra. É importante não o espremer, pois a secreção pode estar contaminada.
“Vale destacar que para o carrapato transmitir a doença, ele precisa estar precisa ficar de quatro a seis horas, pelo menos, aderido ao hospedeiro, seja humano ou não. É nesse período que ocorre o que chamamos de ‘repasto sanguíneo’, e, consequentemente, a transmissão da bactéria”.
Vanessa Yuri, coordenadora do curso de Medicina Veterinária da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)
Por apresentar sintomas comuns a outras doenças, como sarampo, dengue, febre amarela, leptospirose e salmonelose, é difícil diagnosticar a febre maculosa precocemente. As manchas avermelhadas e irregulares na pele, sinal mais específico da enfermidade, podem aparecer entre o segundo e o sexto dia.
Essas características fazem com que o relato do paciente seja fundamental para o médico analisar o quadro, levando em consideração a situação epidemiológica do local e todos os fatores de risco aos quais a pessoa foi exposta nos últimos 14 dias.
De acordo com a médica veterinária da PUCPR Toledo, as formas de prevenção sempre partem da análise dos fatores de risco.
“Não ir a locais com matas e pastos entre os meses de junho e novembro é a principal medida preventiva. Nesse período, o número de carrapatos mais jovens é elevado e, por serem menores, podem passar despercebidos. Vale ressaltar que, uma vez que esses ectoparasitas são contaminados, eles vivem com a bactéria pelo resto da vida e transmitem aos seus descendentes. Um único carrapato pode produzir 16 mil filhotes, o que acaba dificultando muito o controle”, afirma.
Se houver necessidade de frequentar um local com potencial de contaminação, a dica é utilizar vestimentas que cubram todo o corpo, aplicar repelente e, ao sair, fazer uma vistoria completa na pele.
As orientações preventivas também valem para quem tem pets em casa. Inspecionar o corpo do animal diariamente é outra medida bastante importante, além do uso de carrapaticidas ao identificar a presença do ectoparasita.
“Na medicina veterinária, a febre maculosa ainda é raramente diagnosticada, especialmente por ser facilmente confundida com outras doenças. Geralmente, recomendamos o uso de antibióticos, que também é o tratamento indicado para humanos, e o animal se recupera mesmo sem ter o diagnóstico preciso”, finaliza Vanessa.