Em 2023, o mercado climático de inverno no Brasil tem sido mais moderado devido ao impacto do El Niño nas temperaturas, reduzindo os riscos de geadas. No entanto, olhando para a segunda metade do ano, o fenômeno pode ter vários outros efeitos no desenvolvimento da safra 24/25 no Brasil.
Além disso, chuvas mais intensas no final da colheita 23/24 também podem afetar o ritmo dos trabalhos no campo.
Nas próximas semanas, a combinação de padrões climáticos incertos, indicadores técnicos e uma posição líquida vendida dos especuladores pode desencadear uma cobertura de posições vendidas, o que pode adicionar alguma volatilidade aos indicadores do café.
Na última semana, os preços do café continuaram a tendência de consolidação. No entanto, de acordo com análises da hEDGEpoint Global Markets, é importante notar a proximidade das médias móveis de 7 dias e 14 dias, assim como a diminuição das médias móveis de 100 dias e 200 dias, o que, juntamente com a posição vendida dos especuladores, poderia desencadear maior volatilidade.
Quanto aos fundamentos, o clima tem estado em destaque, e é vital compreender como ele pode se desenvolver tanto no curto prazo - dado o inverno no Brasil e a menor probabilidade de geadas - quanto no longo prazo, considerando o potencial da safra 24/25.
O Gráfico #1 mostra as médias atuais e anteriores para o Índice da Região ONI 3.4, que sinaliza o El Niño quando estiver acima de 0,5°C. “Atualmente, o El Niño está ativo, e a última atualização sugere um fenômeno mais forte em 2023, atingindo intensidade máxima entre setembro, outubro e novembro, períodos-chave para a floração e desenvolvimento dos frutos no Brasil”, explica Natália Gandolphi, analista de Café hEDGEpoint Global Markets.
A especialista comenta que, historicamente, o índice alcançou 1,5°C ou mais durante esta mesma janela em 1996/97, 2008/09 e 2014/15. Nas duas primeiras ocorrências, os níveis de precipitação não foram afetados na região sul de Minas Gerais, No entanto, na última ocorrência, a precipitação ficou em 60% dos níveis normais (Gráfico #2).
“Também é importante observar que os níveis médios de precipitação diminuíram 5% da média de 30 anos para a média de 20 anos, e 9% da média de 20 anos para a média de 10 anos”, diz.
O relatório também destaque que em termos de temperaturas, o impacto nas médias é o oposto: as temperaturas têm sido ligeiramente mais altas, especialmente nos últimos três anos (6% acima da média de 30 anos - Gráfico #3). O ano de 2015 também se destaca nesse aspecto, já que as temperaturas em 1996/97 e 2008/09 ficaram abaixo da média, e o primeiro foi anteriormente afetado por geadas. Como resultado, a produção caiu 20% em 2015, quando comparada ao ano anterior fora de safra para o arábica.
Saber que o El Niño impactou negativamente a produção em sua última ocorrência torna importante acompanhar o clima nos próximos meses. A previsão de longo prazo é volátil, mas serve como um guia para as expectativas do mercado. Atualmente, mostra níveis mais elevados de chuva em agosto e setembro nas áreas de cultivo de café - exceto na região sul da Bahia. No entanto, ao entrar no período de outubro a janeiro, espera-se que os níveis de chuva fiquem abaixo da média na maioria das áreas de café, o que levanta preocupações em relação ao potencial da safra 24/25.
Natália Gandolphi, analista de Café hEDGEpoint Global Markets