Os desafios da cadeia da carne ovina foi o tema central do segundo dia de palestras técnicas da 15ª Agrovino, que acontece em Bagé (RS). Foram apresentados estudos sobre o consumo, dados estatísticos da criação de ovinos de corte no estado, além da experiência em desenvolvimento de novos produtos para agregar valor à carne e o exemplo de um produtor que cria e fornece carne de cordeiro no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O presidente da Associação Bageense de Criadores de Ovinos (Abaco) Gustavo Velloso foi o mediador e em sua fala de abertura citou o crescimento de 35% no número de inscritos na Agrovino, este ano com participação de 83 expositores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. A Abaco e a Associação e Sindicato Rural de Bagé são organizadores da feira que ocorre até o dia 14, no Parque da Associação.
Sabrina Vaz, analista da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural, foi a primeira a fazer uso da palavra. Ela apresentou dados atuais da cadeia da carne, como um aumento registrado em 2022 no rebanho gaúcho, não só em animais adultos, como em jovens. Também mostrou que 60% das propriedades criam ovinos de corte e 80% delas declararam que seu foco é a subsistência. A analista também apresentou um estudo realizado pelo Sebrae/RS em parceria com a Ufrgs em que foi apontada a necessidade de educar o consumidor, integrar os elos da cadeia, ocorrer padronização e divulgação do setor e também incentivo governamental. Após apresentar um histórico de políticas públicas já desenvolvidas, ela afirmou que se chegou a um ponto de amadurecimento que pode levar os produtores a propor novas políticas públicas. “Estamos no ano em que será elaborado o novo Plano Plurianual do Governo e é uma ótima oportunidade”, destacou.
A segunda palestra foi da médica veterinária e pesquisadora da Embrapa Elen Nalério. Ela relatou sobre um projeto iniciado em 2012 para agregação de valor à carne de ovinos e que hoje está, por exemplo, desenvolvendo produtos com parceiros na Bahia. “Entrevistamos mais de 1300 pessoas para entender porque o consumo de carne de ovinos era baixo. Vimos que 12% da população brasileira nunca comeu carne de ovino”, conta a pesquisadora. Segundo Elen, as pessoas também não sabem diferenciar carne de cordeiro, carneiro e ovelha. “Algumas pessoas comeram ovelha de descarte no passado, com aquela gordura, e hoje não querem ter nova experiência”, explicou a veterinária. Sobre os produtos já desenvolvidos pela Embrapa, a pesquisadora citou o bacon de ovino e o patê de fígado.
Na sequência, o tema focou na Rota do Cordeiro no Pampa, um projeto iniciado em 2017 e que teve suas atividades impactadas pela pandemia por Covid-19 em 2020 e 2021. A professora da Unipampa, Gladis Ferreira Corrêa, apresentou o cenário nacional das rotas de diversas temáticas, como Moda e Mel, e que a do Cordeiro tem como objetivo fortalecer a assistência técnica voltada para ovinocultores, capacitar técnicos e colaboradores rurais e apoiar o desenvolvimento sustentável e eficiente da ovinocultura, em 15 cidades da Fronteira Oeste e Alto Camaquã. “O projeto era voltado a jovens e mulheres visto que a maioria das propriedades de até 100 cabeças é agricultura familiar, mas tivemos alguns problemas de operacionalização, como repasse de recursos públicos”, explicou.
A professora relatou, também, que foram feitas algumas reuniões e eventos de capacitação em 2019, mas que nos dois anos seguintes não conseguiram executar quase nenhuma ação do projeto, se limitando a eventos online. “Agora reiniciaram algumas reuniões. É preciso deixar de ficar lamentando na frente do galpão e buscar soluções. A gente precisa se unir, se agarrar, com aquela fidelidade canina e não deixar ninguém na mão para conseguirmos implantar a Rota do Cordeiro do Pampa.”, concluiu.
O último palestrante da noite trouxe a experiência mista de produtor e indústria. Felipe Ignácio Vogt relatou o case de sucesso na cadeia da carne ovina da empresa da família, que reúne a marca Celebra Gourmet e a Cabanha Maria Cita, em São Pedro da Serra. Ele contou que migraram da suinocultura e entre 2013 e 2014 iniciaram um projeto piloto de ovinocultura, focado em cordeiros de alta qualidade. "Evoluímos até chegar hoje na Celebra,focamos em genética de alta qualidade e rendimento de carcaças, e hoje temos, em 25 hectares, 450 fêmeas em produção”, contou Vogt. A empresa firmou parceria com um frigorífico na cidade vizinha e comercializam cortes especiais, congelados e resfriados, linguiças de cordeiro e hambúrgueres, totalizando mais de 40 produtos de cordeiro, sendo 30% resfriados e 70% congelados. “Duplicamos nosso abate na pandemia, queremos chegar à venda de 400 toneladas de carne e já fomos procurados para ofertar carne para o mercado externo”, contou Felipe Vogt.
Após as palestras foi aberto espaço para debates. A 15ª edição da Agrovino conta com o apoio da Emater/RS, Associação Brasileira dos Criadores de Ovinos (Arco), Embrapa e Prefeitura Municipal de Bagé além do patrocínio de Banrisul, Senar/RS, Hipra, Sicredi, Paramount, TTerrasul, Rede Conesul, Secretaria Estadual da Agricultura e Governo do Estado, por meio do Fundovinos.