O diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi, participou de um debate virtual da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) sobre o aumento dos custos de produção do campo, na quinta (4).
No início de sua apresentação, Bruno fez uma análise sobre a inflação de alimentos e bebidas e afirmou que esse cenário não é exclusivo do Brasil, mas do mundo todo. “O índice FAO de alimentos fechou o mês de setembro em 130 pontos. Esse valor é o mais alto desde 2012, o que ainda mostra os reflexos da pandemia do covid-19”.
Segundo Lucchi, há uma inflação global de outros itens que compõem os gastos das famílias brasileiras, como gás, combustível e energia. “O poder de compra da população ainda não foi recuperado e o alimento pesa no bolso porque é algo que não tem como abrir mão”.
Ao longo de 2020 a inflação de alimentos e bebidas no Brasil ficou em torno de 14%. No acumulado de janeiro a setembro de 2021, esse valor chegou a 5,8%. O aumento das carnes em 2020, por exemplo, foi de 18%. De janeiro a setembro deste ano o valor foi 8,5%.
Com relação aos custos de produção, o diretor técnico da CNA explicou que a quebra de 20% na produção de milho impactou os preços do grão, o que onerou todas as cadeias pecuárias. Entretanto, o produtor manteve o pacote tecnológico para gerar oferta de proteínas animais (carnes, leite e ovos) para atender a demanda do mercado doméstico.
Já os custos do setor agrícola foram impactados pelos preços dos insumos. De acordo com Bruno, de janeiro a setembro deste ano, o glifosato sofreu alta de 127% em razão da queda da produção do fósforo amarelo na China (ingrediente utilizado na fabricação do defensivo) e da proibição do herbicida paraquate no Brasil.
No caso dos fertilizantes, os valores ultrapassaram 100%. No acumulado do ano, o preço do KCL (cloreto de potássio) subiu 152,6%. O representante da Confederação disse que 30% do que o Brasil importa vem da Bielorússia, que está sofrendo sanções da União Europeia e dos Estados Unidos.
“Além da questão geopolítica da Bielorússia, a alta dos fertilizantes tem sido ocasionada por outros fatores, como problemas logísticos no mundo todo, crise energética, aumento da demanda mundial e a própria desvalorização do real”.
Segundo Bruno Lucchi, existe um risco de desabastecimento de defensivos agrícolas e fertilizantes para a safra do final do ano que vem. “A CNA tem dialogado com as Federações nos estados sobre possíveis atrasos na entrega dos insumos e a quebra de pedidos e contratos de compra previamente estabelecidos pelos fornecedores”.
Lucchi informou que a CNA e o Instituto Pensar Agropecuária (IPA) vão criar um grupo de trabalho para discutir a questão dos insumos. “É uma verdadeira força-tarefa no sentido de buscar soluções. Temos que aproveitar esse momento para priorizar projetos de leis que podem ser estruturantes à indústria nacional de fertilizantes”.
O debate foi mediado pelo presidente da FPA, deputado Sérgio Souza (MDB-PR) e contou com a participação da diretora da divisão de Defensivos Químicos da Croplife Brasil, Andreza Martinez, da economista da Abimaq, Cristina Zanella, do gerente-geral de Marketing e Comércio Interno da Petrobrás, Sandro Barreto, e do diretor substituto do Departamento de Combustíveis Derivados de petróleo do Ministério de Minas e Energia (MME), Deivson Timbó.