CNA alerta para avanço do endividamento rural e cobra regras mais eficientes
Confederação reforça preocupação com o avanço do endividamento rural, destaca queda das commodities, retração do seguro e defende melhorias nas regras de crédito
Bruno Lucchi destacou os riscos crescentes do endividamento rural durante o 5º Brasília Summit. Foto: CNA / Divulgação
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil participou, na quarta (3), do 5º Brasília Summit. O diretor técnico da entidade, Bruno Lucchi, apresentou preocupações relacionadas ao endividamento rural. Segundo ele, diversos fatores negativos atuaram simultaneamente nos últimos anos, o que agravou ainda mais o cenário no campo.
Ele ressaltou que a expressiva queda no preço das commodities continua entre os principais elementos de pressão. A saca da soja, por exemplo, chegou a R$ 210 em 2021 e hoje está perto de R$ 110. Lucchi afirmou que essa redução foi abrupta e se mantém, enquanto eventos climáticos intensos seguem acumulando prejuízos. Entre 2013 e 2024, as perdas somaram mais de R$ 732 bilhões, sendo 57% ligados à agricultura e pecuária.
Seguro rural encolhe e amplia a insegurança
O diretor também lembrou que o seguro rural recuou de forma significativa. Em 2021, o país tinha 14 milhões de hectares segurados, cobrindo mais de 30% da área produtiva. Em 2025, a estimativa aponta apenas 3 milhões de hectares, menos de 5%. De acordo com Lucchi, essa queda amplia o risco e dificulta a continuidade das operações.
Ele destacou ainda que o endividamento rural cresceu rapidamente e passou de 3,54% em outubro de 2024 para 11,4%. Esse é o maior valor da série histórica no crédito livre. A última marca elevada ocorreu em março de 2017, quando o índice estava perto de 5,91%. Para Lucchi, esse avanço acende um alerta urgente.
Crédito mais restrito e custos elevados
Ao falar sobre Recuperação Judicial, Lucchi afirmou que o problema não está na legislação, mas na forma como o instrumento vem sendo usado. Ele observou que há casos de adesão sem total compreensão dos impactos sobre futuras contratações de crédito, o que alimenta uma “indústria da RJ”.
No Plano Safra, o diretor destacou que, apesar da disponibilidade de recursos, o crédito não chega ao produtor nas condições esperadas. Entre julho e outubro, houve retração de 17% nas contratações, um dos menores volumes dos últimos cinco anos. Esse movimento reflete exigências mais rígidas dos bancos, Selic elevada e alto nível de alavancagem dos produtores.
Ele citou ainda o exemplo de um produtor enquadrado no Pronaf, que possui taxa de 6,5% ao ano no custeio, mas acaba pagando 22,5% quando toma R$ 100 mil para a safra de milho. Para reverter esse quadro, Lucchi defende ajustes normativos que evitem restrições excessivas e tornem o crédito mais eficiente.
Mesmo com expectativa de uma safra semelhante ou um pouco maior, existe preocupação com a redução dos pacotes tecnológicos. Esse fator, somado à possível volta do fenômeno La Niña e à baixa cobertura do seguro rural, amplia incertezas para o próximo ciclo.
