As misturas de defensivos agrícolas e fertilizantes no preparo das caldas hoje são fundamentais no dia a dia no campo, principalmente pela praticidade na aplicação, mas também porque geram economia de tempo e combustível, dentre vários outros benefícios. Mas, o que parece simples, exige diversos cuidados para evitar problemas e até mesmo para que não haja perda da eficiência de alguns ingredientes ativos que se está aplicando, ou seja, prejuízo na certa.
“Isso porque, mesmo quando a calda não “talha”, algumas interações entre defensivos e metais presentes na água em sua forma aniônica, ou mesmo entre defensivos e fertilizantes entre si, apesar de não serem detectadas visualmente, podem reduzir parcialmente ou completamente a eficiência sobre o alvo”, pontua.
Sobre o pH, por exemplo, é preciso saber seu valor na água e na calda final. Em especial na segunda, o especialista explica que os defensivos agrícolas têm sua performance otimizada em determinadas faixas ou valores de pH, e ao contrário, podem ter redução de eficiência ou mesmo inativação, “dependendo do valor de pH em que se encontram”.
Traçando uma analogia, na escola, quando se estuda química básica, aprende-se que ao misturarmos um ácido com uma base, teremos a formação de um sal e a produção de água. Trazendo para o campo: não dá para preparar uma calda com ingredientes que tenham pHs em faixas opostas, isso é, que sejam ácidos e alcalinos. “Porque na calda, a reação entre eles, e a formação de sal, pode levar exatamente ao que se chama de “talhar a calda”. A formação daquela “gororoba”, daquele “godó” que entope filtros, que gruda na parede e no fundo dos tanques, e se torna um pesadelo para os times de aplicação”, alerta Hilário.
Atenção aos detalhes
O segundo ponto a ser levado em consideração é a dureza (cálcio e magnésio) e o teor de ferro da água. Pois muitas moléculas de defensivos interagem fortemente com esses três elementos quando estão presentes na água sob a forma de cátions, que são metais em solução com carga positiva. “E dependendo da quantidade de cada um deles, a redução da eficiência é muito grande, podendo chegar à completa inativação”, lembra o pesquisador da Sell Agro.
Quando a água que será utilizada para preparar a calda tem cálcio, magnésio e ferro, a orientação é para a adoção de adjuvantes que possuam em sua formulação agentes quelantes (ou quelatizantes), que sequestram estes cátions e garantem que eles não reajam com nenhum defensivo da mistura.
Não menos importante do que todos os pontos já citados, a quantidade de água usada na pré-mistura e o nível de agitação são pontos cruciais de boas práticas no preparo das caldas. “Via de regra, deve-se colocar água até a metade do volume da pré-mistura, adicionar os defensivos, e se sobrar “espaço”, completar com água até o volume final”, esclarece Garcia. Tudo isso sob agitação constante, que deve ser o mais forte possível. E claro, respeitar a ordem de adição recomendada em função do tipo de formulação do produto a ser utilizado, para evitar problemas de incompatibilidade física.