O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastre (Cenad) divulgaram na quarta-feira (22/11), o boletim nº 3 com o objetivo de apresentar o monitoramento, previsões e os possíveis impactos do El Niño no Brasil em 2023.
O documento é resultado do trabalho realizado em parceria pelos órgãos nacionais e oficiais sobre monitoramento, regulação do uso das águas, gestão de riscos e previsão do clima e tempo. Mensalmente, o conteúdo será atualizado para disponibilizar informações acerca do fenômeno e, assim, apoiar os órgãos federais e estaduais além de contribuir para a tomada de decisões governamentais referentes ao País.
De acordo com o boletim, desde junho de 2023 as condições observadas de temperatura da superfície do mar mostram um padrão típico do fenômeno El Niño. Este padrão se apresenta na forma de uma faixa de águas quentes em grande parte do Oceano Pacífico Equatorial que, próximo à costa da América do Sul, são superiores a 3°C. Desde agosto, essa região apresentou sinais de atividade convectiva anômala em associação ao desenvolvimento de nuvens profundas. Neste ano, um efeito do El Niño que, atualmente, está classificado como de intensidade forte, tem sido observado nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina com o maior volume de precipitação (chuva) acumulada.
Durante o mês de outubro as anomalias de precipitação foram superiores a 300 milímetros (mm) entre os setores norte do Rio Grande do Sul e praticamente todo o estado de Santa Catarina. Por outro lado, na Região Norte foram observados déficits, principalmente, nos setores sul e oeste da Região, o que foi influenciado principalmente pelo aquecimento anormal do Atlântico Tropical Norte.
Já nos primeiros vinte dias do mês de novembro, os maiores valores acumulados de chuva estiveram presentes entre o norte do Rio Grande do Sul, centro-oeste de Santa Catarina e sul do Paraná, com valores superiores a 350 mm em alguns pontos. Neste período, as anomalias de precipitação apresentaram valores positivos em praticamente toda Região Sul do País, com exceção do setor mais ao norte e leste do Paraná.
Considerando-se a previsão de anomalia de precipitação para o período de 1 mês (15 de novembro a 14 de dezembro de 2023), há indicação de condições mais úmidas do que o normal em partes do norte do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, centro-sul de Mato Grosso do Sul, São Paulo, sul de Minas Gerais e em parte do norte do Pará e Amapá. Para as demais regiões do País, a previsão indica o predomínio de condições mais secas do que o normal, com destaque para a região amazônica, principalmente, no setor mais central e sul da região.
Em relação a previsão do armazenamento de água no solo para o mês de dezembro de 2023, com a atuação do fenômeno El Niño e a probabilidade de ocorrência de grandes volumes de chuva na Região Sul, poderá contribuir para elevação dos níveis de água no solo, com valores superiores a 90%, gerando inclusive excedente hídrico.
Nas demais áreas, os níveis de água no solo continuarão baixos, devido a previsão de redução das chuvas nas regiões Nordeste e parte norte da Região Norte, o que poderá impactar negativamente os níveis de armazenamento de água no solo, agravando o déficit hídrico. Em áreas de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, norte de Minas Gerais e sudoeste de São Paulo, a irregularidade espacial das chuvas ainda manterá o armazenamento hídrico em níveis mais baixos.
Além de eventos extremos e concentrados, a chuva constante levou o rio Uruguai a permanecer os últimos 30 dias em condição de inundação em várias cidades ribeirinhas. Nas bacias do Caí e do Taquari, cotas de inundação foram atingidas novamente no início da segunda quinzena do mês, registrando-se novamente vazões com recorrência decamilenar na UHE Castro Alves, no rio Taquari. O reservatório de Passo Real, no rio Jacuí, vem ocupando volume de espera para controle de cheias.
Na Região Norte, as vazões apresentaram curtos episódios de elevação nos rios tributários do rio Amazonas, ainda em situação de seca e com impactos sobre a navegação persistindo em pontos dos rios Purus, Juruá, Madeira, Solimões e Negro. As vazões naturais no rio Madeira em Porto Velho em novembro apresentaram leve aumento em relação a situação de outubro, mas ainda se encontram 56% abaixo da média para o mês, continuando em vigor a declaração da ANA de situação crítica de escassez hídrica até 30 de novembro.
O rio Negro atingiu seu nível mínimo histórico de 12,65 m (cota média diária) no Porto de Manaus em 26 e 27 de outubro, quase 1 metro abaixo do recorde negativo anterior, de 13,63 m em 2010. As vazões naturais nas usinas hidrelétricas Serra da Mesa, Tucuruí e Belo Monte estão 83%, 57% e 59% abaixo da média para o mês, respectivamente, situação pior do que em outubro.
O armazenamento nos reservatórios do SIN reduziu de 68,4% para 60,9% e os principais reservatórios da Região Nordeste também tiveram pequena variação, atingindo volume equivalente de 44,8%, permanecendo a situação crítica em pelo menos 12 sistemas hídricos locais regulados pela ANA.