A Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência climática das Nações Unidas (ONU) afirmou que este já é o ano mais quente da história da humanidade, mesmo faltando um mês para 2023 acabar. Após uma sequência ininterrupta de nove anos com calor recorde, a entidade apela para que sejam tomadas ações urgentes contra o aquecimento global e seus efeitos devastadores sobre o planeta.
O relatório foi divulgado no dia 30/11 e a mensagem foi reforçada pelo secretário geral da ONU, Antonio Guterres, ao dirigir-se a líderes globais reunidos em Dubai no mesmo dia para a Conferência do Clima (COP28), realizada em meio à crescente pressão internacional pela redução das emissões de carbono.
Durante a abertura do evento, Guterres pediu ação imediata e alertou que a humanidade está "profundamente enrascada". "Estamos vivendo o colapso climático em tempo real, e o impacto é devastador", afirmou em mensagem transmitida por vídeo. "O aquecimento global recorde deveria provocar arrepios na espinha dos líderes globais. E deveria impeli-los à ação."
Segundo o relatório da OMM, a temperatura média global já está 1,4º C acima da registrada no período pré-industrial, e os eventos climáticos extremos decorrentes deste aquecimento deixam "um rastro de devastação e desespero". "É uma cacofonia ensurdecedora de recordes quebrados", afirma o chefe da agência, Petteri Taalas. "Os níveis de gases do efeito estufa estão no patamar mais alto já registrado; o nível do mar, também. E o gelo na Antártica está no nível mais baixo já registrado."
Cientistas têm avisado que a janela de tempo para ação está se fechando, e que a humanidade corre o risco de ver o aquecimento global sair totalmente do controle. Os acordos climáticos de Paris, firmados na COP21, em 2015, fixavam a meta de controle do aquecimento global a 1,5º C acima dos níveis pré-industriais ou, na pior das hipóteses, abaixo dos 2º C.
É esse limite de 1,5º C que agora corre o risco de ser ultrapassado – especialmente diante do El Niño, fenômeno climático de aquecimento das águas do Pacífico Equatorial, que ressurgiu em 2023 e deve provocar o aumento das temperaturas globais no ano seguinte. "É praticamente certo que atingiremos esse 1,5º C nos próximos quatro anos, ao menos temporariamente", afirma Taalas, da OMM. "Estamos caminhando rumo a um aquecimento de 2,5º C a 3º C e isso significaria que veremos mais impactos negativos das mudanças climáticas" . Para Guterres, a comunidade internacional precisa se comprometer com medidas drásticas para frear as mudanças climáticas e se ater ao limite de 1,5º C, com o abandono gradual dos combustíveis fósseis e investimentos em energia renovável.
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Embora o relatório final da OMM para o ano de 2023 só deva sair no primeiro semestre de 2024, os cientistas que elaboraram o estudo afirmam que a diferença entre janeiro e outubro de 2023 e o mesmo período do recorde anterior, de 2016, já é tamanha que "é muito improvável" que os dados de novembro e dezembro façam alguma diferença.
O mesmo relatório também aponta que os nove anos anteriores a 2023 quebraram todos os recordes de calor. "Isso é mais do que mera estatística", argumenta Taalas, alertando para o risco de degelo irreversível dos glaciares e o consequente avanço do mar. "Não podemos voltar ao clima do século 20, mas precisamos agir agora para limitar os riscos de um clima cada vez mais inóspito neste e nos próximos séculos."
Ainda segundo a OMM, as concentrações dos três principais gases do efeito estufa – dióxido de carbono, metano e óxido nitroso – atingiram níveis recordes em 2022, com dados preliminares indicando que a tendência deve se manter neste ano. Com os níveis de dióxido de carbono 50% mais altos em relação ao período pré-industrial, as "temperaturas continuarão a subir por muitos anos no futuro", segundo a agência – mesmo com o corte drástico das emissões.
Também a taxa de aumento do nível do mar na última década mais que dobrou em relação à primeira década dos registros por satélite (1993-2002), aponta o relatório da OMM, tendo o nível máximo de gelo marinho neste ano na Antártica, no hemisfério Sul, atingido seu patamar mais baixo – a área perdida supera a França e a Alemanha juntas. No Norte do globo, geleiras na América do Norte e na Europa novamente registraram derretimento extremo.