Tarifas dos EUA sobre o café ameaçam recuperação nas importações e elevam incertezas no mercado global
As importações líquidas de café dos Estados Unidos estavam em trajetória de recuperação na temporada 24/25. Os volumes já superavam os registrados nos dois ciclos anteriores. No entanto, as novas tarifas comerciais anunciadas pelo governo americano podem alterar esse cenário.
Segundo análise da Hedgepoint Global Markets, a principal preocupação é o impacto inflacionário da medida. O café brasileiro, apesar de sua importância, não foi incluído na lista de isenção da tarifa extra de 50%, o que pode encarecer o produto no mercado americano.
Os EUA são grandes importadores líquidos de café, e o Brasil responde por cerca de 30% de toda a oferta que entra no país. Com a nova tarifa, os preços internos nos EUA podem subir, o que tende a frear a demanda.
De acordo com Laleska Moda, analista da Hedgepoint, para cada dólar gasto com café importado, US$ 43 são gerados na economia americana, segundo dados da National Coffee Association (NCA). Ou seja, qualquer barreira tarifária pode ter efeito em cadeia sobre o consumo e o comércio local.
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 0,3% em junho, acumulando alta de 2,7% nos últimos 12 meses — acima da meta de 2% do Fed. Analistas acreditam que as tarifas já influenciam esse aumento e projetam novos avanços nos próximos meses.
Além disso, dados de empregos divulgados em 1º de agosto mostraram números abaixo do esperado. Para a Hedgepoint, um enfraquecimento da economia americana pode limitar a efetividade da política tarifária e afetar decisões futuras do Fed.
Apesar da recuperação nas importações e da resiliência do consumo nos EUA (76% dos americanos consomem café), os estoques globais permanecem baixos. A previsão da Hedgepoint para a temporada 24/25 indica um pequeno déficit, mesmo com uma leve queda na demanda estimada em 1,1%.
Caso as tarifas sejam implementadas, o recuo da demanda pode ser ainda maior, resultando em um déficit global reduzido, mas persistente.
A colheita da safra 25/26 está próxima do fim. O Conilon/Robusta já está quase todo colhido, enquanto o Arábica entra na fase final. Há relatos de queda de produção e problemas de qualidade, como excesso de grãos moca e bebida abaixo do padrão.
Mesmo assim, a produção total deve repetir o volume da temporada 24/25, sustentada pelo aumento no Conilon. Com isso, a diferença de preço entre as variedades cresceu, e os blends nacionais podem ganhar mais Conilon em sua composição.
Apesar do avanço da colheita, as vendas de café seguem abaixo da média. Muitos produtores seguraram os negócios por causa da queda nos preços provocada pelo aumento da oferta. Agora, com o risco tarifário nos EUA, a cautela continua.
Além disso, os diferenciais brasileiros perderam força, principalmente diante de outras origens que também vivem períodos de entressafra. Essa condição pode oferecer suporte de curto prazo aos preços.
O clima deve ser observado atentamente em países produtores como Vietnã, América Central e Colômbia. A maioria está na fase de desenvolvimento da safra 25/26. Enquanto isso, o Brasil se prepara para a temporada 26/27, que tende a moldar o cenário global.
Na projeção da Hedgepoint, a estabilidade da demanda em 25/26 poderia equilibrar o balanço entre oferta e consumo. Porém, o efeito das tarifas pode reverter esse equilíbrio e ampliar a volatilidade de preços.
As tarifas dos EUA sobre o café podem influenciar toda a cadeia global, desde o produtor no Brasil até o consumidor americano. O cenário permanece instável, e a volatilidade deve continuar no curto prazo.
A safra brasileira de 26/27, aliada às decisões de política comercial norte-americanas, será fundamental para a definição dos preços nos próximos meses.