Caso Bradesco-Pecuária traz lições do poder da comunicação para sucesso dos negócios
Episódio mostra o equívoco que é tratar com mensagens superficiais questões de complexidade técnico-científica
O recente caso da ação publicitária do Bradesco nos meios digitais, que associou de forma rasa a bovinocultura com a emissão de gases de efeito estufa escancara o poder que a comunicação tem para alavancar ou prejudicar negócios.
De fato, o roteiro da propaganda da instituição financeira foi infeliz, já que tratou de forma absolutamente simplória a questão, sendo generalista e ignorando toda a jornada tecnológica desenvolvida pela pecuária nacional em favor de uma produção cada vez mais sustentável.
São investimentos feitos em genética, nutrição e pastagens, que vêm apresentando resultados positivos para redução do que o boi emite e simultaneamente conseguem promover mais e melhor sequestro de carbono por meio do pasto bem construído e manejado. Exemplo claro são os projetos de "Carne Carbono Neutro" desenvolvidos pela Embrapa. Como é sabido, porém, a atividade pecuária é heterogênea e há o desafio de se dar escala para as tecnologias e práticas de baixo carbono.
Por outro lado, também não se pode negar que a bovinocultura, pela característica intrínseca da atividade, emite um certo percentual de gases de efeito estufa, devido ao processo fisiológico intestinal dos animais. Cabe lembrar que na mais recente Conferência do Clima, o Brasil assinou compromisso global de mitigação da emissão de metano, um dos gases emitidos pelos bovinos.
O episódio do Bradesco mostra o equívoco que é tratar com mensagens superficiais questões de complexidade técnico-científica. Com as manifestações contrárias à propaganda, o banco acusou o golpe, entendeu o erro e retratou-se publicamente. Neste sentido, o setor produtivo deve também ter em mente, que investir em comunicação transparente e não-radical é o caminho para se quebrar mitos em relação às particularidades da pecuária e da agricultura em geral. É preciso comunicar sempre pensando com a perspectiva do consumidor, do cidadão, caso contrário não conseguiremos quebrar a bolha da informação para além das fronteiras do agro.
