O Brasil deve colher um novo recorde na produção de
algodão, segundo os dados levantados e apresentados pela Associação Brasileiras
dos Produtores de Algodão (Abrapa) e suas associações estaduais, durante a 74ª
reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Algodão e Derivados, do
Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), realizada na manhã desta
quarta-feira (27), online.
Já a produtividade projetada para esta safra
deve ser 6,7% menor que em 2022/2023, e é projetada em 1.809 quilos de pluma
por hectare. Os números não diferem tanto dos divulgados pela Conab, no dia 12
de março, que projetavam produção de 3,56 milhões de toneladas de pluma (+12,2%
em relação à safra 2022/2023), com área plantada estimada em 1,93 milhão de
hectares (+16,3%).
As
chuvas recentes, registradas, praticamente, em todos os estados produtores,
estão ajudando no desenvolvimento da cultura. Entretanto, para repetir o
recorde do ano passado ainda são necessárias chuvas no período de enchimento de
capulhos, principalmente, nas lavouras plantadas em segunda safra. O clima também favoreceu a pressão de pragas
como a mosca-branca e de lagartas, como a spodóptera, que, apesar disso, estão
bem manejadas.
De acordo com o
presidente da Câmara Setorial e da Abrapa, Alexandre Schenkel, as lavouras de
algodão em excelentes condições no Brasil, e o grande volume a ser colhido
reforça a necessidade de continuar investindo na abertura de mercados para o
algodão brasileiro. “Isso vem sendo feito de maneira intensiva, por meio do
programa Cotton Brazil, que reúne a Abrapa, a Anea e a Apex na realização de
ações de promoção da fibra no mercado externo. Mas precisamos também
diversificar e balancear esses mercados. Hoje, 60% do algodão brasileiro vai
para a China, o que é muito bom, mas a concentração é sempre preocupante”,
afirmou.
Logística
- Um outro assunto de destaque na reunião foi a logística, para escoar uma
produção que cresce a cada ano. É preciso investimento em manutenção de
rodovias e de outros modais, e esse foi o tema da apresentação dos consultores
de logística, Luís Antonio Pagot e Luiz Munhoz, no encontro. Segundo eles, para
esta safra, a situação é ainda “confortável”, mas, sem investimentos, o país
corre o risco de um “apagão logístico” no futuro.
“Na próxima reunião, em
junho, será apresentado um diagnóstico completo, incluindo ferrovias, hidrovias
e rodovias, além da situação dos portos, tanto para a região Norte e Nordeste
do país quanto para o Centro-Oeste, para estabelecer uma estratégia e fazê-la
chegar às autoridades do governo, encaminhando demandas direcionadas a melhora
da infraestrutura”, afirma o diretor executivo da Abrapa, Marcio Portocarrero.
Exportações
- Os problemas logísticos, segundo o presidente da Associação Nacional dos
Exportadores de Algodão (Anea), Miguel Faus, não têm sido um grande empecilho
ao escoamento das safras de maior volume, graças a esforços conjuntos,
orquestrados pelas instituições, “mas é preciso prioridade para o tema”. De
acordo com a Anea, o ritmo dos embarques em março está forte, e este deve ser
um mês “histórico” para as exportações de algodão brasileiro. “Se isso
continuar desse jeito, em abril, maio e junho, o carry-out vai ser menor do que
até, talvez, na safra passada”, afirma.
Até a última sexta-feira,
11, o Brasil embarcou 1,93 milhão de toneladas. “No ano passado, nesse mesmo
período, a gente embarcou 1,21 milhão de toneladas. Superamos, em muito, essa
marca até agora”, afirma Faus.
Indústria - Destino de
cerca de 750 mil toneladas, o mercado interno está confiante em um bom ano, em
2024. Ou, pelo menos segundo o diretor superintendente e presidente emérito da
Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando
Valente Pimentel, tendendo ao “copo meio cheio”, em lugar de “meio vazio”. Um
provável crescimento do PIB é favorável ao emprego, à renda, e,
consequentemente, à perspectiva de consumo.
“Mas nós ainda estamos
vivendo em um cenário em que o consumidor não está manifestando muito otimismo,
e é importante que a gente vire essa chave, porque expectativa positiva em
relação ao futuro é um ingrediente relevante, junto com a renda e uma certa segurança
de que vai haver emprego para os próximos períodos”, diz. Para a Abit, a
indústria crescerá mais no setor têxtil do que na confecção, “mas se nós
sairmos de uma expectativa de 1,8 % de PIB e caminharmos para algo como, de
2.2% a 2.5%, o efeito sobre o mercado é grande”, pondera.