Além da guerra comercial entre EUA e China, produtores de algodão enfrentam impacto da alta nos fertilizantes causada pela tensão no Oriente Médio
A instabilidade gerada pelo conflito entre Israel e Irã já traz reflexos para a cotonicultura brasileira. Um dos principais impactos está na elevação dos preços dos fertilizantes, especialmente os nitrogenados. O Brasil importa cerca de 85% dos fertilizantes que utiliza, e aproximadamente 17% da ureia vem do Irã, que teve sua produção temporariamente paralisada. Segundo a consultoria StoneX, o preço da ureia subiu 9% desde o início do ano.
Essa elevação preocupa especialmente os produtores de algodão, cultura que exige alta adubação e manejo intensivo. Com ciclo longo e solos naturalmente pobres em nutrientes no Cerrado, a lavoura depende fortemente do fornecimento externo de insumos. Segundo Márcio Portocarrero, diretor da Abrapa, a crise dos fertilizantes pode gerar prejuízos significativos se os produtores não revisarem suas estratégias de manejo.
No campo da comercialização, o cenário também é desafiador. A China, principal compradora do algodão brasileiro (49% das exportações), utiliza a fibra para fabricar produtos têxteis voltados aos EUA. Com as tensões comerciais entre os dois países, há risco de redução na demanda chinesa — o que ameaça diretamente os exportadores brasileiros.
Diante disso, especialistas reforçam a necessidade de reduzir a dependência da importação. Medidas como a reativação de fábricas nacionais de fertilizantes, incentivo ao uso de remineralizadores e estímulo à produção de nutrientes orgânicos são apontadas como caminhos para mitigar os riscos no curto e médio prazo.