No mês de junho uma cena pouco comum na região de Tupãssi, Oeste do Paraná, fez lembrar os tempos antigos da agricultura. Aproximadamente 40 pessoas colhiam o milho no “braço”. A atitude incomum causa uma reflexão sobre o quanto o campo pode gerar oportunidades de emprego e de mudança social.
Segundo os administradores da propriedade rural, que produz semente de milho para uma multinacional, depois de um vendaval, boa parte da área plantada tombou. Como não valia a pena financeiramente colocar as máquinas para trabalharem no local, surgiu a ideia de contratar um grupo de pessoas para colher o milho caído do chão no estilo mais antigo da agricultura, ou seja, no braço.
O líder do grupo de trabalhadores é Claudinei de Oliveira. Ele contou que os trabalhadores são do Jardim Progresso, bairro de Assis Chateaubriand. “Boa parte deles estão desempregados ou fazem esses bicos para reforçar a renda. Muitos perderam o emprego por causa do Covid-19”, relatou.
Um deles é Edson Francisco da Silva, que é jardineiro. “Perdi o emprego com a pandemia. Aí surgiu essa oportunidade. Me fez pensar em voltar a trabalhar no campo, já que na cidade não há muitas oportunidades”.
Outra história semelhante é a de Rosangela da Silva. Artesã, ela não conseguiu vender mais seus produtos depois da pandemia. “Fazer eu até faço, mas ninguém mais compra. Como eu preciso comer né, voltei à trabalhar no campo. Eu já trabalhei em aviário, como caseira e agora voltei a fazer isso. Gostei e agora vou procurar trabalho de novo nessa área”, confessou.
“Uma história dessas é bastante interessante e mostra como nós podemos criar oportunidades de emprego, e como as pessoas precisam de emprego. Não sei se compensa financeiramente para o produtor essa empreitada, mas ele pensou em dar oportunidade. Precisamos pensar que aquilo que está ali é comida e pode ser até pecado deixar ‘se perder’. E mais: gera comida na mesa de 40 famílias”, contou.
Além disso, Paulo Orso acredita que cenários assim seriam muito mais vistos se houvesse uma simplificação das leis trabalhistas. “Já tivemos grandes avanços nos últimos anos, mas ainda precisamos evoluir mais. A burocracia é tão grande que muitas vezes desanima o empresário rural a tomar uma atitude como essa. A simplificação geraria muito mais empregos, certamente”, comentou.
Cursos e capacitação
Paulo Orso afirma que há uma série de cursos gratuitos profissionalizantes via Sindicato Rural de Cascavel, disponibilizados pelo Senar-PR. Com a pandemia, os cursos estão temporariamente suspensos. No entanto, em breve eles voltarão a ser abertos.
“O sistema Senar-PR é a escola do campo. As pessoas precisam usar dessa estrutura gratuita para criar novas oportunidades de trabalho. Há uma grave escassez de mão de obra no campo. Por exemplo, a profissão de boiadeiro está praticamente em extinção, mas há inúmeros produtores precisando de um profissional com experiência nesse setor. Assim como as mesas do mundo que ajudamos a dar fartura, o campo também é um prato cheio de oportunidades de trabalho. As pessoas só precisam estar aptas e aproveitar isso”, disse.
