No Paraná, as cooperativas têm papel importante na assistência técnica nas diversas cadeias produtivas. Nesse contexto, os drones de pulverização têm passado a compor o portfólio de serviços ofertados aos cooperados. Desde janeiro desse ano, a pulverização com drones está à disposição de produtores rurais da área de abrangência da Cocamar, com sede em Maringá. Como o serviço entrou em operação no meio da safra passada, cerca de 800 hectares foram cobertos, com expectativa de ampliar esse volume no próximo ciclo.
A agrônoma Stephanie Squissatti Fajardo está à frente dessa operação na cooperativa de Maringá. O equipamento, da marca chinesa Xag, permite operar dois drones ao mesmo tempo por uma única pessoa (o que ainda é incomum nessa tecnologia). Essa operação faz com que seja necessário ter um gerador ligado o tempo inteiro na área pulverizada, além de um assistente para auxiliar na parte prática de recarga de baterias, abastecimento do tanque e outros detalhes. Cada voo dura em torno de 10 minutos, tempo para abranger uma área de pouco mais de um hectare.
A agenda está disputadíssima, especialmente por produtores de soja, milho e mandioca, três dos carros-chefes da região. “Estou fazendo divulgação agora na entressafra para adiantar o mapeamento das áreas, para quando chegar o verão não precisar perder tempo com essa parte. O período-chave vai ser quando a colheita da safra de inverno, porque consigo fazer o mapeamento percorrendo a área de carro. Nessa época (julho) tem muito vento e é difícil usar drone de imagem para fazer o trabalho”, explica Stephanie.
Pesquisas vão ajudar a definir parâmetros de aplicação
A corrida aos drones de pulverização exige pesquisas quanto aos efeitos da aplicação com essa tecnologia. Questões como diluição, parâmetros para evitar deriva, diferenças nos efeitos agronômicos e outros aspectos usados para medir a qualidade da aplicação têm sido alvo de estudos científicos encomendados pelas indústrias de insumo, como conta Ulisses Antuniassi, professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) de Botucatu. Em termos de tecnologia de aplicação, segundo Antuniassi, o drone tem sido campeão de demanda de pesquisas.
De acordo com Antuniassi, o mercado de drones está em construção e há uma série de entendimentos em consolidação, até mesmo em termos de nomenclatura e categorização. Os equipamentos ainda não estão previstos na bula dos principais produtos químicos e a regulamentação para uso desse tipo de tecnologia de aplicação prevista pelo Mapa (Portaria 298 de 2021) tem como parâmetro inicial a aplicação de defensivos por aviões.
“As empresas ainda estão gerando informações sobre os parâmetros de aplicação com drones. Honestamente, drone não é um avião. Ainda há um caminho de pesquisas para percorrer. Isso leva um certo tempo”, detalha o especialista.
O professor ressalta, no entanto, que a geração de dados está evoluindo rapidamente. Enquanto conversava com a reportagem, Antuniassi tinha acabado de receber dados de um dos inúmeros ensaios em andamento relacionados à pulverização aérea com drones.
“É um mercado em uma evolução intensa. Nos próximos dois ou três anos teremos um cenário com mais informações com base científica e, naturalmente, a regulamentação dessa tecnologia deve acompanhar essas transformações”, projeta o pesquisador.
Em paralelo aos drones para os agroquímicos, as aeronaves para aplicação de produtos biológicos também têm chamado a atenção. Antes de trabalhar na Cocamar, a agrônoma Stephanie Fajardo atuou, em outra empresa, com a aplicação de microvespas para o controle de pragas na cana-de-açúcar por meio de aeronaves pilotadas remotamente. Mesmo serviço prestado pelo zootecnista Rafael Andrzejewski, da Lapa, Região Metropolitana de Curitiba. “O drone de pulverização virou uma febre, o pessoal está focado no químico e eu mais no biológico. Além do mapeamento com imagens que criamos, também fazemos a liberação de agentes biológicos, como Telenomus podisi e Tricrograma [pequenas vespas que ajudam no controle de pragas]”, compartilha Andrzejewski.
Modelos devem coexistir
Apesar da euforia com os drones de pulverização, profissionais de mercado veem desafios que impedem, ao menos no curto prazo, a substituição completa das outras modalidades de pulverização. Nessa balança pesam o alto custo de aquisição dos aparelhos, o nível elevado de tecnologia e a necessidade de um treinamento específico dos operadores, além da menor capacidade de pulverização diária em relação aos equipamentos convencionais terrestres ou mesmo aviões. Esses fatores podem desequilibrar a questão custo-benefício.
“Operar uma coisa que voa é complexo. Um trator já tem um grau de complexidade. Imagine algo que anda para frente, trás, cima, baixo, para um lado e para o outro. Tem que treinar, saber todas as questões de segurança e legais”, analisa Eduardo Goerl, CEO da Arpac.
Joel Nalon, instrutor do curso “Operação de Drones” do SENAR-PR, também vê desafios a serem superados. “Aquele produtor que está bastante tecnificado e tem uma área maior, a partir de 300 hectares, vai começar a pensar em adquirir um drone pulverizador. Mas para o produtor pequeno, que já tem pulverizador de trator ou autopropelido, o uso do drone vai ser pontual, por terceiros”, opina Nalon, que vai começar a prestar serviços de pulverização aérea com drones.
Rafael Andrezejewski, que também é instrutor do SENAR-PR, enfatiza que a tecnologia está em crescimento constante e, nos próximos anos, deve haver transformações no modo como as tecnologias de aplicação vão coexistir e disputar espaço. “Sabemos que o uso de drone na pulverização pode aumentar a produtividade, atingir áreas não mecanizáveis, ter mais eficiência da aplicação atingindo folhas baixeiras, principalmente no milho. Tem um leque de possibilidades, inclusive para ajudar produtores que já têm equipamentos convencionais e poderão contar com mais essa ferramenta para pulverizações localizadas”, prevê.
Curso de drone é o terceiro mais procurado do SENAR-PR
Desde 2019, o Sistema FAEP/SENAR-PR oferece o curso “Operador de drones”, com mais de 650 turmas desde então. No ano passado, a capacitação foi a quarta mais demandada do catálogo da entidade, proporcionando mais conhecimento e informações aos produtores e trabalhadores rurais na hora da tomada de decisão em suas propriedades.
Além desse curso, o SENAR-PR tem participado constantemente de feiras na área de drones e realizado visitas técnicas a companhias do segmento para projetar as próximas ações. Uma das novidades confirmadas é a realização de cinco turmas-piloto de um curso de drones de pulverização, a primeira delas no Centro de Treinamento Agropecuário (CTA) do Sistema FAEP/SENAR-PR em Ibiporã, no Norte do Paraná.