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Avicultura 28-12-2023 | 17:59:00

Riqueza do setor avícola não chega ao produtor, afirma FAEP

Segundo levantamento da Federação da Agricultura do Paraná (FAEP), os custos de produção da avicultura no Estado fecharam no vermelho, excluindo pequenos produtores da cadeia produtiva


Por: FAEP (Federa


Em novembro, o mais recente levantamento dos custos de produção elaborado pelo Sistema FAEP/SENAR-PR mostra que o saldo sobre o custo total foi negativo em todas as regiões do Paraná. Em alguns polos produtivos, como Chopinzinho, no Sudoeste do Estado, os avicultores não conseguiram cobrir nem os custos variáveis – valores que o produtor dispõe para produzir o lote. De modo geral, energia elétrica e combustíveis foram os itens que mais pesaram sobre a atividade. Para complicar ainda mais a situação, o dinheiro obtido com a venda de cama aviária despencou, contribuindo para o desequilíbrio das contas.
As dificuldades de quem mantém os aviários chegam a impressionar, se colocadas em perspectivas com a pujança da atividade. Entre janeiro e outubro deste ano, a avicultura paranaense movimentou mais de US$ 3,2 bilhões só com as exportações, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério de Desenvolvimento, Indústria,

Comércio e Serviços (MDIC). No mercado interno, o Paraná abateu mais de 3,5 bilhões de toneladas. Para o setor produtivo, a chave para a sustentabilidade da cadeia é a transparência. Hoje, os avicultores colocam seus custos na mesa, mas têm dificuldades de obter os dados da indústria.

As exportações sobem, novos mercados internacionais se abrem e essa prosperidade não chega para o produtor, que acumula saldos negativos. O avicultor não está vendo esse dinheiro. Não estamos dizendo que a indústria é o vilão. Ela tem custos de estoque, armazenamento e beneficiamento. Mas é preciso ter transparência, para que se chegue a uma remuneração mais justa e que garanta a sustentabilidade da cadeia", afirma Fábio Mezzadri, técnico do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR.
Segundo Diener Santana, presidente da Comissão Técnica (CT) de Avicultura da FAEP, os números mostrados pela indústria são limitados e, portanto, não são suficientes para entender as condições de remuneração do setor produtivo. “A indústria simplesmente abre um valor quando o operacional está em prejuízo. Mas a cadeia em si, de onde vêm esses números, eles não abrem para os produtores. Na contramão, eles têm na ponta do lápis todo o nosso custo de produção”, relata. “As tentativas de negociação acabam sendo desgastantes para o produtor, que já está em dificuldades, com os custos subindo e as margens cada vez mais apertadas”, complementa Santana.

Mudança de perfil
A tendência é de que essa dinâmica acentue uma mudança na configuração da avicultura estadual, o que já é visível no campo. Com os custos altos e margens apertadas, apenas médios e grandes avicultores devem seguir na atividade, que passam a garantir a rentabilidade a partir do aumento da escala. Também devem se sobressair produtores que se dediquem à avicultura em consórcio com outras atividades – como o cultivo de grãos –, o que permite diluir os custos.

“O que temos visto é a concentração da atividade na mão dos grandes, que conseguem ganhar em escala, que reduzem os custos, por sistemas de energia alternativa ou cultivo das próprias florestas, e que têm condições de acessar financiamentos em melhores condições. O pequeno já está apavorado. Não consegue pôr sistema fotovoltaico, está preso a financiamentos e a essa condição de baixa rentabilidade. A tendência é que a avicultura se torne uma atividade de grandes produtores”, avalia Mezzadri.
É o caso do produtor Elivelton Antônio Bosi, de Chopinzinho. Filho de avicultores, o negócio da família está centrado em duas propriedades, com capacidade conjunta de alojar 150 mil aves por lote. Além disso, o negócio também contempla o cultivo de grãos. Mesmo com os custos em alta, Bosi se prepara para expandir os aviários, para ganhar em escala. Mas só os investimentos não bastam. O avicultor profissionalizou a gestão das propriedades. Formado em Administração e com pós-graduações na área de agronegócio, Bosi embasa cada tomada de decisão em estudos do mercado.

Elivelton Antônio Bosi é filho de avicultores e se dedica à atividade em duas propriedades em Chopinzinho Todas as decisões são tomadas em análises concretas. Não tem como aumentar escala ou gerir o negócio sem que se coloque tudo no papel. "Tem que pensar nos aviários como uma empresa. Mesmo que as margens sejam apertadas, com porcentagens pequenas, temos que garantir que essa evolução seja constante", afirma Elivelton.

Avicultor há 16 anos, Juarez Pompeu destaca um círculo vicioso. Com a defasagem na remuneração dos produtores ante a alta dos custos, os pequenos e/ou quem tem financiamento não conseguem reinvestir no negócio. Sem modernizar os aviários, os avicultores não atingem a eficiência exigida. “Sem os investimentos, as granjas não oferecem as condições que as aves necessitam. A conversão alimentar é menor. Aí, o produtor recebe menos. A indústria quer investimento constante, mas está impossível”, afirma.
Também em Chopinzinho, Pompeu mantém dois aviários, cada um com capacidade média para 13,5 mil aves. Além disso, destina 150 hectares ao cultivo de soja. O produtor diz que dificilmente conseguiria persistir caso se dedicasse apenas à avicultura. Ele menciona fatores que já evidenciam que produtores estão deixando a atividade. “Já tem revendedores especializados em comprar aviários de produtores que não conseguiram fazer os investimentos e estão abandonando a produção. Compram os equipamentos e revendem”, conta Pompeu.


Juarez Pompeu é avicultor há 16 anos e atualmente mantém dois aviários em Chopinzinho. Segundo ele, a avicultura não é uma commodity. "Ela se submete à integração. E as indústrias não estão observando as dificuldades dos avicultores. Os produtores que se dedicam só à avicultura dificilmente têm conseguido se manter na atividade. As margens são muito apertadas e os investimentos cobrados são muitos. No meu caso, eu planto soja. Estou colocando aqui e tirando dali. O investimento [na avicultura] está feito. Se eu sair, é pior", ressalta Juarez.


Para Santana, da CT de Avicultura, não é de hoje que o perfil da atividade vem se transformando. Ele explica que, com a exigência de mais tecnologia implantada nos aviários, modais cada vez maiores passaram a ser construídos para aumentar a capacidade de alojamento e diluir os custos – mas isso se aplica aos médios e grandes produtores. “Em um aviário pequeno, a implantação de tecnologia eleva muito o custo por ave, o que inviabiliza a produção. Chega num ponto que a reforma do aviário fica inviável. O produtor acaba apelando para a venda dos equipamentos e, eventualmente, se desliga da atividade”, aponta.

TAGS: FAEP - avicultura


Texto publicado originalmente em https://www.sistemafaep.org.br/prosperidade-da-avicultura-nao-chega-ao-produtor/

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