Conab destina até R$ 106 mi para compra emergencial de leite em pó da agricultura familiar

O anúncio ocorreu na manhã desta terça-feira (23), na Superintendência Regional da Conab no Rio Grande do Sul. O presidente da estatal, Edegar Pretto, apresentou a operação após reunião com representantes de entidades do setor leiteiro. Também participaram do encontro o diretor de Políticas Agrícola e Informações, Silvio Porto, e o superintendente regional no estado, Glauto Lisboa.
Segundo Pretto, a iniciativa reflete o esforço da Conab e do Governo Federal em ouvir um setor estratégico para o país. Em 2025, a produção de leite superou a de anos anteriores, o que pressionou os preços pagos aos produtores. Com a compra do excedente, a expectativa é reduzir a oferta disponível e contribuir para a recuperação das cotações. “Essa ajuda resulta de uma mobilização intensa em Brasília, com diálogo direto com ministérios, para garantir uma resposta concreta à cadeia produtiva do leite”, afirmou.

Importância da cadeia leiteira no Brasil

O Brasil ocupa a terceira posição no ranking mundial de produção de leite. Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul concentram cerca de 70% da produção nacional. Apenas no ano passado, o país produziu 35,6 milhões de litros. Dados do Censo Agropecuário do IBGE mostram que 98% dos estabelecimentos dedicados à bovinocultura leiteira produzem até 500 litros por dia, respondendo por aproximadamente 70% do total nacional.

Além de apoiar os produtores, a operação também reforça as políticas de combate à fome. De acordo com Pretto, o leite em pó adquirido será destinado à população em situação de vulnerabilidade social. “Ao comprar o excedente da agricultura familiar, garantimos renda aos produtores e, ao mesmo tempo, asseguramos o acesso a um alimento de qualidade para quem enfrenta insegurança alimentar”, destacou.

Atualmente, o preço de referência definido pela Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) está em R$ 1,88 por litro, enquanto o mercado paga, em média, R$ 2,22. Na operação, considerando a conversão média de oito litros de leite integral para um quilo de leite em pó e os custos de produção, a Conab pagará cerca de R$ 41,89 por quilo. O valor foi calculado a partir dos preços médios de referência das superintendências do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Reação do setor e operacionalização da compra

Para o presidente da Fetag-RS, Carlos Joel da Silva, a medida chega em um momento decisivo, diante do aumento das importações, especialmente de leite argentino. Segundo ele, a compra governamental ajuda a retirar o excesso do produto do mercado e pode contribuir para a retomada do setor.

Avaliação semelhante fez o presidente da Cooperativa Regional dos Assentados da Fronteira Oeste (Coperforte), Elio Müller. Ele destacou que a iniciativa traz alívio imediato às cooperativas, que vinham enfrentando dificuldades para escoar a produção. “Saímos confiantes de que essa operação permitirá normalizar o envio do leite à indústria”, afirmou.

A aquisição ocorrerá no âmbito do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), na modalidade Compra Institucional (CI). A Conab publicou o aviso no site nesta terça-feira, e as organizações interessadas podem se cadastrar até 28 de dezembro. As propostas devem ser enviadas pelo aplicativo PAANet, acompanhadas da documentação exigida, conforme as diretrizes da operação.

Estados atendidos e ampliação dos limites

Podem participar organizações da agricultura familiar de Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo, Alagoas, Sergipe e Goiás. Uma das principais mudanças anunciadas é o aumento do limite financeiro por família, que passa de R$ 15 mil para R$ 30 mil. Além disso, o limite por organização quadruplicou, permitindo o atendimento de até 200 famílias por entidade.

Do total de recursos, R$ 47 milhões serão destinados ao Rio Grande do Sul, o equivalente a 44% do montante, para a compra de mais de 1,1 mil toneladas de leite em pó. Paraná e Santa Catarina receberão, respectivamente, R$ 18 milhões e R$ 16 milhões. Alagoas contará com R$ 10 milhões, enquanto Goiás e São Paulo terão R$ 6 milhões cada. Sergipe receberá R$ 3 milhões.

Os recursos foram repassados pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS). O leite em pó adquirido será destinado a populações em situação de insegurança alimentar e nutricional e também poderá atender pessoas afetadas por eventos climáticos extremos, por meio da distribuição de cestas de alimentos.
Texto publicado originalmente em Notícias