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Pêssegos 20-01-2021 | 22:44:00

Pêssegos da Embrapa são exportados para ocupar entressafra no Hemisfério Norte

Variedades da Embrapa somaram mais de 60 toneladas nas exportações brasileiras de pêssego em 2020


Por: Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecu


Segundo a pesquisadora Maria do Carmo Raseira, uma das responsáveis pelo desenvolvimento das variedades, o volume exportado ainda é pequeno, porém, abre um caminho que pode ser expandido. “Ver o pêssego daqui exportado tem um significado muito importante, pois são frutas de cultivares brasileiras e cultivadas no Brasil”, orgulha-se.
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As variedades BRS Kampai e BRS Fascínio se destacam para exportação, segundo a cientista, principalmente porque apresentam firmeza suficiente para aguentar cerca de 12 horas de transporte aéreo sem danos, além da boa cor e sabor. As variedades de polpa branca, como é o caso de ambas, geralmente são muito macias. Há mais de uma década, a pesquisa da Embrapa priorizou melhorar a firmeza deste tipo de polpa, resultando nessas variedades.

Participação do produtor é fundamental
Além das características do material, a pesquisadora destaca também o trabalho dos produtores no manejo dos pomares para a expressão da qualidade das cultivares. “As variedades têm potencial genético. Mas, a expressão desse potencial depende muito do trabalho do produtor, por isso, há muito mérito deles”, completa.

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A propriedade Irmãos Parise, localizada em Jarinu (SP), é a responsável pela exportação. Há cerca de 30 anos, a família se dedica à produção de frutas para o mercado interno, sendo o pêssego o carro-chefe. São 19 anos com a cultura. Eles também produzem atemóia, caqui, pitaya, lichia, tangerina, goiaba e manga. O objetivo é trabalhar com um leque diversificado de frutas para produzir e comercializar durante o ano inteiro.

As primeiras frutas exportadas pela propriedade, em 2018, foram a atemoia, o caqui e a lichia, dado o volume de produção e a qualidade adequada ao cliente externo. Atualmente, o mercado para essas frutas no Canadá e União Europeia já está consolidado. O próximo passo foi a inserção do pêssego no mercado internacional.

Todas as frutas que chegam ao Hemisfério Norte são das variedades BRS Kampai e BRS Fascínio (foto à direita), já que suas características atendem a mercados exigentes, como o europeu. “[As variedades] atendem as demandas por sabor, coloração e durabilidade da fruta. Por isso, a exportação é 100% de pêssego desenvolvido pela Embrapa”, informa Rodrigo Parise, um dos responsáveis pela empresa.
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Na propriedade, a colheita média anual do pêssego gira em torno de 500 a 600 toneladas. As principais variedades cultivadas atualmente são Tropic Beauty, BRS Fascínio e Chiripá, as duas últimas desenvolvidas pela Embrapa. Em torno de 80% do total da produção é composto por variedades da Empresa. “O consumo dessas duas variedades, o BRS Kampai e o BRS Fascínio, está crescendo cada vez mais aqui no estado de São Paulo. Qualidade, durabilidade, coloração, sabor, calibre... dão frutos graúdos. Além disso, as duas são bem produtivas”, justifica.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019 o Brasil foi responsável pela produção de 183,1 mil toneladas de pêssego, em cerca de 16 mil hectares colhidos. O maior estado produtor é o Rio Grande do Sul, com produção de 110,2 mil toneladas, em 11,8 mil hectares. São Paulo fica em segundo lugar, com 32,9 mil toneladas, em 1,5 mil hectares. Na sequência, os maiores produtores são Santa Catarina, Minas Gerais, Paraná e Espírito Santo.

Brasil ainda importa muito mais pêssego do que exporta
Segundo dados do Ministério da Economia, o Brasil exporta menos pêssego do que importa, isso vale tanto para as frutas frescas como em calda. As exportações de pêssegos in natura foram de apenas 38,3 toneladas em 2019 e de 71,8 toneladas em 2020. Em comparação, no ano passado foram importadas 12,1 mil toneladas do produto in natura. 
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De acordo com o pesquisador em socioeconomia da Embrapa, Luiz Clovis Belarmino, o Brasil tem alta competência para exportar grãos e carnes, mas pode avançar bastante em relação às frutas. De um total anual de exportações agrícolas superior a 100 bilhões de dólares, as vendas externas de frutas pelo Brasil não chegam a um bilhão de dólares. Só o Peru, por exemplo, exporta mais do que isso apenas com o mirtilo. 


Por isso, o pesquisador vê essas primeiras exportações de pêssego como muito promissoras. A título de comparação, traça um paralelo entre a soja e o pêssego. Um hectare de soja produz cerca de 60 sacas, ao preço médio de cem reais, o que renderia uma renda bruta de seis mil reais. Nesta mesma área, com rendimento de pêssego em torno de 25 mil quilos por hectare, ao custo de 2,5 reais, o retorno ao produtor seria de 62 mil reais.


“A fruta tem alto valor agregado por área. Claro que o investimento é um pouco maior, mas em termos de retorno financeiro e valorização da terra, a fruticultura é muito superior. Chega a render dez vezes mais por hectare. E gera mais empregos de qualidade, também. Precisamos investir mais na área”, avalia.




Início da exportação
A possibilidade de exportação do pêssego veio na safra 2019, durante a participação da Irmãos Parise em feiras internacionais. “Como a gente já exportava as outras frutas e o pêssego é o nosso carro-chefe, eu sempre tive vontade de exportá-lo. Nessas feiras, conversando com os clientes, a gente viu que tinha essa possibilidade de encaixar o pêssego do Brasil na janela quando termina a fruta deles”, relembra Parise.


As exportações tiveram início em 2019, para Paris, na França. Foram embarcadas cerca de 20 toneladas de pêssegos da variedade BRS Kampai e, em seguida, da BRS Fascínio. A preocupação inicial foi com a logística e a durabilidade. Mas, de acordo com o produtor, as variedades atenderam às necessidades. “No segundo embarque a gente já obteve confiança”, conta.


A safra em países produtores do Hemisfério Norte, como México, Estados Unidos e Canadá, vai de junho a meados de setembro. É justamente quando termina a oferta por lá que o pêssego brasileiro pode abastecer o mercado. A janela para a comercialização da safra brasileira vai de outubro a janeiro, dependendo da região e do ciclo da variedade cultivada por aqui.


Embarques em 2020
Com a experiência em 2019, o mercado canadense foi o próximo passo. A menor oferta de frutas na propriedade, em função da renovação dos pomares, foi um dos fatores que limitou a expansão no ano anterior. Em 2020, a exportação do pêssego foi quase quatro vezes maior. “A gente já entrou mais confiante. Chegou fim de setembro, já começamos a enviar para França e Canadá”, disse.


O produtor estima envio médio semanal de dez toneladas da fruta, para dois clientes atacadistas que fazem a distribuição por lá. Por isso, Parise já contempla a possibilidade de abertura de novos mercados nos dois países. “Como ainda estamos com pouca disponibilidade da fruta, estamos segurando. Mas, já percebemos que o pêssego brasileiro vai ter boa aceitação no mercado externo e perspectivas de demandas maiores. Estamos bem otimistas”, avalia.


Ainda segundo o fruticultor, o valor pago pela fruta exportada pode chegar de três a quatro vezes mais que o preço nacional. No entanto, em 2020, o aumento dos custos de logística durante a pandemia, praticamente o dobro, impactou o preço final das frutas. Por isso, ele acredita que ainda há espaço para melhorar a margem de lucro em tempos normais.


Fruto da pesquisa brasileira


Ambas as variedades da Embrapa trabalhadas pelo produtor são resultado do Programa de Melhoramento Genético da Embrapa Clima Temperado, que é realizado em Pelotas desde a década de 1950. Segundo a pesquisadora Maria do Carmo (foto ao lado), 100% das cultivares utilizadas hoje pela indústria e mais de 80% das cultivares de pêssego de mesa foram desenvolvidas pela Empresa.


O programa é um dos maiores e mais completos do mundo, principalmente para desenvolvimento de pêssego com foco na indústria de conservas. Seu Banco Ativo de Germoplasma (BAG), que armazena material genético de diversos locais para utilização no trabalho de melhoramento, possui mais de 900 acessos.


Resultado desse trabalho, a BRS Fascínio, lançada em 2012, destaca-se pelo tamanho dos frutos, pela baixa acidez e pela firmeza da polpa. Mas, sua produtividade também é expressiva. A produção pode chegar a 90 quilos por planta. A variedade é mais tardia e recomendada para consumo in natura, já que atende à preferência dos consumidores brasileiros por frutas grandes, de polpa branca e doce.


A BRS Kampai (foto abaixo), de 2009, também para consumo in natura, se destaca pelo bom sabor dos frutos, mesmo com a precocidade da maturação, o que tende a diminuir o teor de açúcar. Também produtiva, apresenta firmeza superior à maioria das cultivares de polpa branca, além de boa conservação pós-colheita. Isso resulta em maior tempo de câmara fria e prateleira. Sua baixa exigência de frio permite produção desde o Rio Grande do Sul até a região Sudeste.


Parte do desenvolvimento dessas variedades foi realizado em regiões produtoras de São Paulo e contou com a cooperação da então Embrapa Produtos e Mercado, que ajudou a encontrar parceiros para testar os materiais. “Acho que o ponto fundamental foi o teste no local. O produtor viu que se adaptava bem naquela região e aí decidiu produzir”, afirma Maria do Carmo.


A aquisição de mudas de ambas as variedades pode ser feita junto a produtores licenciados para multiplicação e comercialização dos materiais, como é o caso da propriedade Irmãos Parise. A lista dos licenciados, com respectivas informações de contato, está disponível na página das cultivares.


Expectativas
Levando em consideração o Estado de São Paulo, Parise avalia a demanda pelo pêssego como crescente, tanto para mercado interno, quanto externo. Ele também observa que está faltando frutas no mercado, principalmente o pêssego. Por isso, o produtor enxerga possibilidade de crescimento para o setor. “Por ser considerada uma fruta natalina, toda essa época é propícia, tem uma demanda, uma saída maior da fruta”, avalia.


A safra paulista, no entanto, é a primeira a ser colhida no Brasil, de agosto a novembro. Por isso, os produtores buscam prolongar a colheita visando atender à janela do mercado externo. E, para isso, demandam novas variedades. “Que, ao invés de terminar em novembro, a gente tenha variedades tardias até janeiro. E, se possível, que essas variedades tardias mantenham as mesmas características do BRS Kampai e BRS Fascínio”, conclui. 


Para atender à demanda do setor produtivo por materiais mais tardios para a região, a pesquisa já está trabalhando no desenvolvimento de novas variedades. De acordo com Maria do Carmo, seleções promissoras já estão em avaliação em Unidades de Observação. “Esperamos que nos próximos anos tenhamos algum resultado”, prevê a pesquisadora.




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