Cooperativismo
22-06-2021 | 22:08:00
Cooperativismo paranaense e o custo de oportunidade
Cristiano Kruk*
Para comparação: a produtividade por hectare é 4,14% superior ao de nossos maiores concorrentes, os Estados Unidos, e surpreendentes 122,94% maior que a argentina. Com a alta de preços e o câmbio elevado, tudo aponta que, de novo, o agronegócio vai sustentar o superávit da balança comercial em 2021. Por isso, é fundamental reconhecer a relevância do cooperativismo para o país, já que metade da produção agropecuária passa pelas mais de 1.200 cooperativas brasileiras.
Com estruturas de autogestão e metas claras para acompanhamento de resultados, o cooperativismo paranaense merece destaque. Iniciativas promovidas e coordenadas pela OCEPAR (Organização das Cooperativas do Estado do Paraná) auxiliaram suas associadas a atingir a marca de R$ 115 bilhões de faturamento em 2020 - e já estimam meta de R$ 200 bilhões até 2024, em todos os segmentos. Tais resultados são fruto de um estruturado plano de desenvolvimento sustentável, com investimentos anuais de cerca de R$ 5 bilhões e o desenvolvimento de mercados e alianças, o aprimoramento de estruturas de gestão, governança, infraestrutura e tecnologia, além da preocupação constante com questões socioambientais.
Entretanto, dentre as quase 60 cooperativas paranaenses, existem enormes diferenças. Enquanto algumas são altamente estruturadas, com sistemas de gestão, governança e compliance bem estabelecidos, ainda há aquelas cujas estruturas administrativas não conseguiram chegar a níveis equiparáveis de excelência.
E por que isso é relevante?
Um dos grandes objetivos de uma cooperativa agropecuária é garantir apoio a seus cooperados. Além de assistência técnica e acompanhamento de todo o processo produtivo, normalmente, a cooperativa, por meio de sua indústria, beneficia a produção a fim de gerar um maior valor agregado e, assim, maior retorno ao produtor. As cooperativas trabalham com altos índices de alavancagem financeira, atuando como "financiadores" do produtor. As taxas de juros obtidas, por sua vez, estão diretamente relacionadas a aspectos de gestão dos negócios. Desta forma, a falta de gestão adequada de derivativos, previsão de fluxo de caixa de fixação, política clara de retenção de sobras, plano de investimentos, estrutura de governança e sistema de gestão de riscos frágeis, entre outros, tendem a elevar as taxas de juros, reduzir os resultados e, no pior cenário, colocar a cooperativa em um ciclo vicioso de endividamento que, em alguns casos, só é revertido mediante a venda de ativos.
O bom desempenho das cooperativas agroindustriais do Paraná nos últimos anos e as previsões de crescimento do setor indicam um caminho para as demais organizações no cenário nacional. Somente assim, com planejamento e boa gestão, as cooperativas brasileiras continuarão cumprindo seu papel no crescimento da economia, com geração de renda e justiça social.
* Cristiano Kruk é sócio líder de Cooperativas da KPMG no Brasil