Geral 18-11-2024 | 8:48:00

G20 social insiste em afirmar que agricultura familiar produz 80% dos alimentos

Setor é importante no combate à fome, à pobreza e às emergências climáticas, mas não é responsável pela maior parte da produção de alimentos

Por: Jair Reinaldo

Porém, o documento mostrou seu perfil ideológico ao ser produzido por representantes de movimentos sociais, que afirmam que a agricultura familiar, camponesa, os povos indígenas e a agricultura agroecológica de base comunitária são a espinha dorsal da soberania alimentar, da biodiversidade e da sustentabilidade ambiental.
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O G20 reúne 19 países (Brasil, África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia), além da União Europeia e da União Africana. A inclusão de um pilar social nas discussões do G20 representa um avanço significativo na busca por soluções mais equitativas para os desafios globais.
Em 2014, a produção da agricultura familiar correspondia a 21,4% do valor total das despesas com alimentos das famílias do País


Estudos científicos que comprovam que, apesar de muito importantes e de ser um levantamento complexo, agricultores familiares produzem apenas entre 21,4% e 30% do total. A estimativa de 70% é uma informação equivocada, mas infelizmente reproduzida nos dias de hoje.

Esse tipo de dado é disseminado por aqueles que condenam a agricultura de médios e grandes produtores. Há também as pessoas desinformadas, que simplesmente compartilham conteúdo sem saber realmente sua veracidade.

O documento vai além e afirma que a agricultura familiar é responsável por mais de 80% da produção mundial de alimentos. Claro, ela desempenha um papel central na construção de um sistema alimentar mais justo e sustentável, porém, a proporção não é real.

O professor Rodolfo Hoffmann, da Unicamp, em matéria do jornalista Daniel Azevedo Duarte, do portal AgrofyNews, afirma que não pode-se diminuir a importância da agricultura familiar no contexto produtivo do agro brasileiro. Ela é responsável pela geração de emprego e renda para cerca de 10 milhões de pessoas. Porém, afirma que o reconhecimento da importância da agricultura familiar no Brasil não precisa de dados fictícios..

Em 2014, a produção da agricultura familiar correspondia a 21,4% do valor total das despesas com alimentos das famílias do País com base em Censos Agropecuários e correções inflacionárias.

Os dados do Censo Agropecuário mais recente (2017-2018), realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que 76,8% dos 5,073 milhões de estabelecimentos rurais do Brasil são caracterizados como agricultura familiar, conforme Decreto 9.064, de 31 de maio de 2017.

Mas número de propriedades é diferente de volume ou valor da produção por razões bastante óbvias.Em termos de valor de produção, o mesmo Censo Agropecuário de 2017/2018 indica que a produção da agricultura familiar gerou receita de 106,5 bilhões de reais (23% do total), enquanto a geração de receita da agricultura não familiar foi de 355,9 bilhões de reais (77% do total).

Com base ainda no Censo Agropecuário, foi elaborada uma lista com uma cesta de 65 produtos agrícolas, abrangendo a produção de grãos, cana-de-açúcar, hortaliças e espécies frutíferas. No conjunto desses 65 produtos, a participação da agricultura familiar foi de apenas 5,7%.

Quando se exclui, desta cesta, a soja, o milho, o trigo e a cana-de-açúcar, que são culturas industriais cultivadas em médias e grandes áreas, a participação da agricultura familiar alcançou 30% do total produzido em toneladas.

Os dados demonstram a relevância econômica e social da agricultura familiar no Brasil, mas a proporção aproxima-se mais do inverso (70% de grandes e médios produtores e 30% de pequenos produtores) do que a “estimativa” original publicada pelo governo passado.

Em alguns produtos, não na somatória geral, por sua vez, a participação da agricultura familiar é maior.Os agricultores familiares têm importância significativa na maioria dos produtos hortícolas e em algumas espécies frutíferas, como é o caso do morango, com participação na produção de 81,2% e uva para vinho e suco com 79,3%.

Com relação à produção da pecuária, o Censo Agropecuário mostra que 31% do número de cabeças de bovinos, 45,5% das aves, 51,4% dos suínos, e 70,2% de caprinos pertenciam à agricultura familiar naquele ano.Além disso, este segmento foi responsável por 64,2% da produção de leite no período de referência do Censo.

O documento ainda destaca a : necessidade urgente de uma mudança no sistema alimentar global e na estrutura de produção capitalista, além do reconhecimento e implementação dos direitos humanos por parte dos governos".

Para comprovar o teor ideológico do documento, a coordenadora Nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), Ceres Hadich, participou da cerimônia de encerramento do G20 Social e discursou. Segundo ela,“é urgente e necessário que os povos do mundo, junto aos seus líderes, se envolvam em um processo de transformação dessa realidade".

A líder do movimento afirmou que esse processo só será possível com a inversão da lógica da produção e das relações socioeconômicas. "Precisamos, de fato, pensar em uma transição justa, que respeite a vida humana e a vida das demais espécies, em coletividade e em harmonia com a natureza”, declarou .

Agora, o documento elaborado na cúpula social será entregue pelo presidente Lula aos chefes de governo e de Estado que participarão da Cúpula do G20 nos dias 18 e 19 de novembro, também no Rio de Janeiro. As propostas contidas no documento serão analisadas para possível inclusão na declaração de líderes, que será apresentada após o encontro.

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