Armazenagem 09-10-2025 | 15:49:00

Déficit de armazenagem em Mato Grosso preocupa produtores

Aprosoja MT alerta que juros altos e menor subvenção no crédito rural dificultam novos investimentos em armazenagem

Por: Redação RuralNews

De acordo com dados da Aprosoja MT, o cenário preocupa, já que muitos agricultores enfrentam barreiras para acessar as linhas de crédito anunciadas. Segundo o diretor administrativo da entidade, Diego Bertuol, o volume recorde de recursos divulgado pelo Governo Federal não tem se traduzido em crédito real ao produtor.
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“Esses recursos não têm chegado ao produtor rural. Já estamos no início do plantio e muitos não conseguiram concluir suas operações bancárias, nem mesmo para o custeio. A situação da armazenagem não é diferente. Hoje, precisamos de linhas com juros abaixo dos anunciados pelo governo e com prazo de carência adequado, para viabilizar investimentos em infraestrutura, mas isso não está acontecendo. Por isso, atualmente, mais de 50% da nossa safra está sem local adequado para estocagem”, afirmou Bertuol.
Aprosoja MT alerta para o déficit de armazenagem em Mato Grosso e cobra crédito rural com juros menores. Foto: Aprosoja MT / Divulgação


Produção recorde e infraestrutura insuficiente



Em Mato Grosso, a produção de soja deve ultrapassar 47 milhões de toneladas na safra 2025/26. No entanto, o estado possui apenas 53,4 milhões de toneladas de capacidade estática, espaço que também precisa atender à produção de milho, que superou 54 milhões de toneladas na última safra. Somadas, as duas culturas revelam um déficit superior a 52 milhões de toneladas, segundo o IMEA.

Com a produção em expansão, a falta de crédito acessível para construção e ampliação de armazéns agrava os gargalos logísticos e reduz o poder de negociação do produtor. O vice-presidente da Aprosoja MT, Luiz Pedro Bier, reforça que o estado é o mais impactado pela carência de infraestrutura.

“Nós temos menos capacidade de armazenamento do que o mínimo necessário, e o Mato Grosso é o pior estado em infraestrutura quando comparamos produção e capacidade de armazenagem. É caro construir, os financiamentos são burocráticos e demorados, e na taxa de juros atual, não são viáveis. Quanto menor o armazém, mais caro ele é por saca armazenada. Por isso, os pequenos e médios produtores são os mais impactados”, afirmou Bier.

Além disso, ele lembrou que, diante da falta de espaço, muitos produtores recorrem a silos bolsa e enfrentam escassez de caminhões e altos custos de transporte durante a colheita.

Plano Safra e o desafio do crédito rural



Embora o Plano Safra inclua o Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), produtores relatam que os valores não têm chegado na ponta, o que trava o avanço das obras e amplia o risco de gargalos logísticos na próxima colheita.

“Precisamos entender que esse não é um problema apenas do produtor rural, mas de segurança alimentar nacional. Qualquer imprevisto em portos ou crises geopolíticas podem deixar o Brasil refém, sem condições de escoar a safra. E se isso acontecer, o que faremos com todo esse grão? Sem espaço para armazenar, poderíamos perder até metade da produção de Mato Grosso, com prejuízos bilionários para toda a economia do país”, alertou Bier.

O presidente da Aprosoja MT, Lucas Costa Beber, reforça que o problema é nacional e agravado pelos juros elevados e pela redução dos recursos para investimento.

“O Brasil produziu neste ano 350 milhões de toneladas de grãos e, ao mesmo tempo, temos um déficit superior a 120 milhões de toneladas. O que nos preocupa é que, todo ano, a produção cresce mais do que a construção de armazéns. Agora, com juros altos e menos recursos no Plano Safra, o cenário fica ainda mais desafiador. O encarecimento dos equipamentos e das estruturas de armazenagem, somado à inflação, tem afastado o investimento de grande parte dos produtores”, destacou.

Aprosoja MT defende incentivos e políticas públicas



Diante desse quadro, Beber defende políticas públicas que incentivem a construção de armazéns próprios e ofereçam benefícios fiscais aos produtores. “O Governo precisa adotar medidas que incentivem quem tem armazéns próprios, para que o Brasil alcance soberania nesse tema. Mudanças de mercado ou conflitos internacionais podem exigir maior capacidade de armazenagem, e sem espaço, ficamos à mercê do tempo”, completou.

Com o avanço da produção e a falta de infraestrutura, o déficit de armazenagem em Mato Grosso reforça um alerta antigo do setor produtivo. Sem locais adequados para estocagem, o produtor perde autonomia, reduz sua margem de lucro e o Brasil compromete sua competitividade e segurança alimentar.

Por isso, a Aprosoja Mato Grosso segue defendendo linhas de financiamento mais acessíveis, com prazos alongados, menos burocracia e juros compatíveis com a realidade do campo. O objetivo é garantir investimentos em armazenagem, considerada essencial para a sustentabilidade da produção e a soberania alimentar do país.

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Texto publicado originalmente em Notícias
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